28 setembro, 2006

 

O grosso, o queridinho e o fofinho

Vamos hoje tentar dar o nosso modesto contributo para a tentativa de resolução do mais velho conflito do mundo. Não, não estamos a falar do conflito israelo-árabe (aliás, uma brincadeira de garotos comparado com este que ora vos trazemos) Falo sim da guerra edénica que tem oposto os homens às mulheres (ou vice versa!).

Este estudo é fruto de anos e anos de estudo (mais de biblioteca que de campo, com muita pena nossa...), que compreende exaustivos inquéritos minuciosamente elaborados e de alto labor científico. A eles submetemos centenas, ou mesmo dezenas de representantes do sexo oposto. Adende-se a isto as incontáveis conversas de café e de transportes públicos despudoradamente devassadas e o rigoroso espiolhamento de diários íntimos, cartas “extraviadas” e gavetas “supostamente” fechadas a que a privacidade da amostra foi duramente submetida.

O objectivo era ambicioso. No fundo, a pergunta a que o estudo pretende dar resposta é a seguinte: como é que as mulheres dividem e classificam os homens? O resultado a que chegámos não é, como não poderia ser, consensual. E não estará, em nossa modesta opinião, isento de polémica. Precavidos desde já para esta eventualidade, podemos, pois, antecipar as prováveis críticas dos nossos detractores: que os conceitos são vagos, ambíguos e imprecisos; que outro tipo de categorização poderia igualmente ser feita; que falta cientificidade metodológica à investigação, enfim, uma miríade de argumentos que poderiam ser fácil e simplesmente rebatidos. A nossa intenção, porém, longe de ser a de criar uma polémica oca e estéril é, bem pelo contrário, a de fornecer modestos subsídios para a mútua compreensão entre os dois sexos.

Não nos querendo debruçar sobre miudezas teóricas, que nada, aliás, trariam de esclarecedor a tão inquietante questão, ficam aqui pois expostos os resultados de tão aturada pesquisa.

As mulheres dividem os homens em três grandes grupos: os grossos, os queridinhos e os fofinhos.

Os «grossos» (o grossus trogloditus) compreendem, numericamente, a mais exígua parcela do todo. Sendo poucos têm uma óbvia consciência de classe e um apurado sentido elitista. São também os mais facilmente reconhecíveis a “olho nu”, e com certeza, não passarão despercebidos ao mais empedernido heterossexual, dado o alto grau de olhares embasbacados das fêmeas ao seu redor. Graças à atenção que das fêmeas recebe, o «grosso» tende a descurar outras das capacidades físicas inatas ao homem, como pensar ou não passar 2/3 da sua vida útil em ginásios.

Os «queridinhos» são seres permanentemente em transição entre o «grosso» e o «fofinho». Como são seres “camaleónicos”, que se camuflam quer de «grosso», quer de «fofinho» não são muito facilmente reconhecíveis, mesmo entre os da própria espécie, o que dificulta a sua defesa corporativa. Normalmente o «queridinho» analisando a sua classe intermédia entre as outras duas espécies tenta aglutinar o que de melhor tem o «grosso» com o que de melhor tem o «fofinho». Nesta ânsia de querer parecer um “princípe da Renascença”, não passa frequentemente de uma imitação ‘revistesca’ de um “principe de Bel-Air”.
O seu nome científico (abutreos amorosus) deriva do facto de que tentam ao máximo acopular-se a um ou mais «grossos» nos seus hábitos gregários (resultando abundantes vezes em hábitos gregórios) de forma a alimentar-se dos restos e das rejeições daqueles. A sua táctica é facilmente perceptível: o «queridinho» vai cirandando concentricamente em redor do «grosso» para analisar como está composto o campo de batalha e assim calcular as probabilidades matemáticas de não acabar sozinho numa operação stop nos Cabos de Ávila ou na Calçada de Carriche com um teor etílico capaz de conservar em perfeito estado a múmia de Ramsés II. Mas há sobretudo um outro objectivo do «queridinho» nos seus hábitos parasitários: tenta fazer com que as fêmeas que lhe interessam (que aumentam proporcionalmente com o avançar da noite e com a quantidade de whiskies marados ingeridos) estabeleçam “eye contact” consigo para que percebam que ele é amigo do «grosso». Desta forma, se a fêmea quiser fazer a corte ao «grosso» mas este se mostrar demasiado inacessível ou se estiver positavemente a cagar, o «queridinho» pode ter aqui uma oportunidade que só desperdiçará por inépcia pessoal ou por ter misturado quinze ´jecas com 3 licores beirão. Nesse caso, pouco haverá a fazer senão ir directamente para o EPL onde o «querido» costuma hibernar durante umas temporadas ocasionais.

O «fofinho» (amicus non-copulatis) é aquele habitual e recalcitrante acompanhante da fêmea, a quem esta toma para si como seu escudeiro, a quem conta as suas preocupações diárias (as madeixas que gostaria de fazer, a ida ao shopping do próximo fim-de-semana, helás, o «grosso» que não lhe liga peva...), com uma intimidade própria de quem nunca há-de partilhar os mesmos lençóis.
Este espécimen, com vagas mas decisivas parecenças ao seu antepassado, o ursinho de peluche, contenta-se com esta relação trovadoresca com a sua ama. E embora a deseje secreta e intimamente, o máximo a que pode aspirar é que ela o apresente a uma sua amiga com uma boa carta de recomendação. E a amiga, desesperada que está porque o «grosso» por quem anda enamorada está a sair agora com a sua vizinha do 5º esquerdo (cientificamente conhecida como “aquela vaca!”), aceita dar guarida a este desvalido sentimental, que costuma treinar às-noitinhas-à-frente-do-espelho-do-seu-armário-do-quarto-em-madeira-de-pinho-que-os-pais-lhe-ofereceram-quando-fez-15-anos a fazer de grosso, qual de Niro em Taxi Driver.

Finalizada que está a elencagem dos três tipos de homens que existem no universo feminino outra questão surgiria: que tipo de homem é o preferido pelas mulheres. Tendo uma vertiginosa opção pelo grosus trogloditus, o ideário mulheril está polvilhado por electrianas imagens do homem perfeito (cientificamente, patres nostrum) que faria a síntese das qualidades dos três géneros, expurgando de igual forma os seus espúrios excessos. Contudo, e na impossibilidade física, química, genética e futebolística de existir um homem que se assemelhe fisicamente ao Cary Grant, tenha o carácter de Oskar Schindler e o saldo bancário de Bill Gates, as mulheres optam pelo «grosso». Ou seja, metamorfoseando a questão: as mulheres sonham com o Arquitecto, mas acabam de beicinho caído pelo Trolha. Isto é a grande vingança divina por Eva ter oferecido a maçã a Adão e não a Deus...

Comments:
Terrivelmente bem escrito e verdadeiro. Como fémea admiro-me pela minha espécie (eu própria incluída)escolher o grosso...
Os fofinhos são o máximo, não há dúvida, mas muito submissos...nós até gostamos de mandar, mas homem tem de ser macho...
Complicada esta nossa cabeça...
 
deves ser gay
 
Eh pá! Agora é que tu me apanhaste!
Mas ainda assim, demonstras um grande grau de tolerância, vindo de uma pessoa que se afirma de esquerda...
 
Conde, nesta coisa dos blogs somos todos mais ou menos anónimos. Aí reside parte da piada da questão. Interrogo-me eu: a que casta pertencerás tu?
De qualquer das formas, achei muita piada ao post.
Uma vénia!
 
Lindo! A conclusão do estudo é espectacular. Resultado: Após este Post vai aumentar o número de trabalhadores na Construção Civil. Baixa a taxa de desemprego e aumenta a taxa de natalidade. Está aqui resolivdo o problema da Economia Nacional. Agora, pensa em resolver o déficit comercial de Portugal...
 
Parabéns! Um texto soberbo!!! :)
O público feminino cada vez mais tem um imaginário mais complexo. Querem empacotar todas as qualidades num ser que é apenas humano...e homem por sinal!
Mas é lamentável que a grande maioria se deixe impressionar por uns bíceps insuflados por esteróides e por uma valentes palmadas no rabo!
Eh, lá!!! Com esta frase lapidar já me devo inserir na hordas dos "grossos"!
 
és gay, de direita e beto. O que pode haver pior no Mundo? Só o Capitalismo!
 
Ai Visconde! Não diga isso...
Não me quer dar umas palmadas no rabo? Eu adoro!
Ainda para mais vindas de um machão com o seu QI!
 
Anónimos:
È lamentável a covardia refugiar-se desta maneira. Como diria o outro: O que vocês querem sei eu!!!!

Alguém quer escrever sobre as várias subcategorias do ser feminino?
 
Ah,ah,ah!!! Não há hipótese. O Pedro continua com o seu numeroso clube de fãs.
 
Meu Caro Conde:
Neste preciso momento estou a telefonar a uma série de Amigas, pedindo-Lhes satisfações pelas vezes que me chamaram «queridinho».
Abraço.
 
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