30 setembro, 2006

 

Europrostíbulo



"A reportagem do jornal espanhol “El Mundo” que aponta a cidade de Natal como “a nova meca do turismo sexual europeu” está correndo o mundo nas asas da Internet. Ricardo Careca Lemos, que estava no interior do Pará, no meio da selva, foi acordado por um companheiro que presta serviços para uma importante mineradora que contratou também as idéias de Careca para projetos na área de arquitetura. O cara tinha acabado de ver na Internet as “delícias” de Natal. E lá estava, inteiro, o texto do jornal de Madrid que, por sua vez, era citado por um caçuá de blogues e aparecia em sítios escritos - com todo o respeito e sem querer fazer trocadilho vulgar - em todas as línguas. Ponta Negra está brilhando nessa triste geografia. Ali se cruzam todas as máfias, algumas delas com a participação até da Polícia como denuncia a reportagem. O assunto foi tocado ontem por uma das colunas mais importantes da imprensa brasileira, a de Anselmo Gois, de O Globo, e distribuida para vários jornais do país. É a nota de abertura: “O jornal espanhol El Mundo publica uma reportagem sobre o turismo sexual em Natal. O repórter chama a cidade de “europrostíbulo” e conta casos de espanhóis que são achacados. O golpe mais comum é a menina anunciar que é menor quando o programa está no fim, triplicando o preço com a ameaça de chamar a polícia”.O Rio Grande do Norte aparece na reportagem do jornal espanhol como o estado mais pobre do Brasil: “Natal, uma cidade do estado do Rio Grande do Norte, o mais pobre do Brasil. Esta cidade, de 800 mil habitantes, se transformou na nova Meca brasileira do turismo sexual. A praia de Ponta Negra, hoje em dia, é o ‘europrostíbulo’ mais seleto da América do Sul”.A reportagem de El Mundo teve o efeito de um chute, com todo o respeito, nos testículos dos dirigentes dos organismos oficiais do turismo local."
in Tribuna do Norte (28/09/2006)

È com algumas tristeza que leio estas notícias sobre a cidade que me adoptou. No entanto, o texto do jornal espanhol imprime um tom algo exagerado à notícia, embora a situação do turismo sexual no estado seja cada vez mais procupante. O fenómeno já dá origem a uma espécie de indústria organizada, como podem testemunhar através do site abaixo mencionado. Uma nova Tailândia em vista?

http://www.garotanacional.com.br/

 

Anti-anorexia


"O governo espanhol e os principais fabricantes de roupa de Espanha estão a negociar um acordo que unificará os tamanhos da roup a e promoverá uma imagem física mais saudável, longe da magreza extrema

Fonte do Ministério da Saúde espanhol revelou que o acordo, que deverá ser assinado no início do próximo ano, conta com a participação de marcas como a Zara, o El Corte Inglês, a Mango, o Corterfiel e a Associação de Criadores de Moda de Espanha.
Promovido pelo Ministério da Saúde espanhol, o acordo insere-se num pacote de medidas que Espanha quer aprovar para combater a anorexia e outros problemas alimentares que continuam a aumentar entre as jovens.
Uma das medidas mais polémicas foi aplicada na Passarela Cibeles deste mês quando, mediante um acordo com os organizadores, foram proibidas de desfilar modelos com uma massa corporal que não fosse considerada «saudável»."

in Sol (30/09/2006)

Será o triunfo das roliças? Como homem sempre gostei do ser feminino mais encorpado... E para que se acabe de vez com estereótipo de beleza irreal, que tem vitimado várias adolescentes nos últimos anos.

 

A boa candidata


Gostaria de vos apresentar uma das candidatas ao Governo da Califórnia, cujas eleições estão marcadas para o próximo dia 7 de Novembro. Trata-se de Mary Carey, uma emergente porno-star que pretende destronar Arnold Schawarzenegger do seu cargo. Ela já se tinha candidatado anteriormente, ao cargo supremo do Estado mais liberal dos EUA em 2003 e ficou colocada em 10º lugar na escolha dos eleitores. Desta feita, tudo indica que terá uma candidatura mais consolidada e apresenta a Educação como um dos principais vectores da sua candidatura. Resta-nos saber qual o tipo Educação a que esta honrada senhora se refere...De qualquer modo, adivinha-se um escaldante embate eleitoral por aquelas bandas. E Schawarzenegger que se cuide, porque parece que a moçoila tem muitos trunfos para o derrubar da cadeira do poder. Nem que seja à lei da bala...de silicone! :)

28 setembro, 2006

 

O grosso, o queridinho e o fofinho

Vamos hoje tentar dar o nosso modesto contributo para a tentativa de resolução do mais velho conflito do mundo. Não, não estamos a falar do conflito israelo-árabe (aliás, uma brincadeira de garotos comparado com este que ora vos trazemos) Falo sim da guerra edénica que tem oposto os homens às mulheres (ou vice versa!).

Este estudo é fruto de anos e anos de estudo (mais de biblioteca que de campo, com muita pena nossa...), que compreende exaustivos inquéritos minuciosamente elaborados e de alto labor científico. A eles submetemos centenas, ou mesmo dezenas de representantes do sexo oposto. Adende-se a isto as incontáveis conversas de café e de transportes públicos despudoradamente devassadas e o rigoroso espiolhamento de diários íntimos, cartas “extraviadas” e gavetas “supostamente” fechadas a que a privacidade da amostra foi duramente submetida.

O objectivo era ambicioso. No fundo, a pergunta a que o estudo pretende dar resposta é a seguinte: como é que as mulheres dividem e classificam os homens? O resultado a que chegámos não é, como não poderia ser, consensual. E não estará, em nossa modesta opinião, isento de polémica. Precavidos desde já para esta eventualidade, podemos, pois, antecipar as prováveis críticas dos nossos detractores: que os conceitos são vagos, ambíguos e imprecisos; que outro tipo de categorização poderia igualmente ser feita; que falta cientificidade metodológica à investigação, enfim, uma miríade de argumentos que poderiam ser fácil e simplesmente rebatidos. A nossa intenção, porém, longe de ser a de criar uma polémica oca e estéril é, bem pelo contrário, a de fornecer modestos subsídios para a mútua compreensão entre os dois sexos.

Não nos querendo debruçar sobre miudezas teóricas, que nada, aliás, trariam de esclarecedor a tão inquietante questão, ficam aqui pois expostos os resultados de tão aturada pesquisa.

As mulheres dividem os homens em três grandes grupos: os grossos, os queridinhos e os fofinhos.

Os «grossos» (o grossus trogloditus) compreendem, numericamente, a mais exígua parcela do todo. Sendo poucos têm uma óbvia consciência de classe e um apurado sentido elitista. São também os mais facilmente reconhecíveis a “olho nu”, e com certeza, não passarão despercebidos ao mais empedernido heterossexual, dado o alto grau de olhares embasbacados das fêmeas ao seu redor. Graças à atenção que das fêmeas recebe, o «grosso» tende a descurar outras das capacidades físicas inatas ao homem, como pensar ou não passar 2/3 da sua vida útil em ginásios.

Os «queridinhos» são seres permanentemente em transição entre o «grosso» e o «fofinho». Como são seres “camaleónicos”, que se camuflam quer de «grosso», quer de «fofinho» não são muito facilmente reconhecíveis, mesmo entre os da própria espécie, o que dificulta a sua defesa corporativa. Normalmente o «queridinho» analisando a sua classe intermédia entre as outras duas espécies tenta aglutinar o que de melhor tem o «grosso» com o que de melhor tem o «fofinho». Nesta ânsia de querer parecer um “princípe da Renascença”, não passa frequentemente de uma imitação ‘revistesca’ de um “principe de Bel-Air”.
O seu nome científico (abutreos amorosus) deriva do facto de que tentam ao máximo acopular-se a um ou mais «grossos» nos seus hábitos gregários (resultando abundantes vezes em hábitos gregórios) de forma a alimentar-se dos restos e das rejeições daqueles. A sua táctica é facilmente perceptível: o «queridinho» vai cirandando concentricamente em redor do «grosso» para analisar como está composto o campo de batalha e assim calcular as probabilidades matemáticas de não acabar sozinho numa operação stop nos Cabos de Ávila ou na Calçada de Carriche com um teor etílico capaz de conservar em perfeito estado a múmia de Ramsés II. Mas há sobretudo um outro objectivo do «queridinho» nos seus hábitos parasitários: tenta fazer com que as fêmeas que lhe interessam (que aumentam proporcionalmente com o avançar da noite e com a quantidade de whiskies marados ingeridos) estabeleçam “eye contact” consigo para que percebam que ele é amigo do «grosso». Desta forma, se a fêmea quiser fazer a corte ao «grosso» mas este se mostrar demasiado inacessível ou se estiver positavemente a cagar, o «queridinho» pode ter aqui uma oportunidade que só desperdiçará por inépcia pessoal ou por ter misturado quinze ´jecas com 3 licores beirão. Nesse caso, pouco haverá a fazer senão ir directamente para o EPL onde o «querido» costuma hibernar durante umas temporadas ocasionais.

O «fofinho» (amicus non-copulatis) é aquele habitual e recalcitrante acompanhante da fêmea, a quem esta toma para si como seu escudeiro, a quem conta as suas preocupações diárias (as madeixas que gostaria de fazer, a ida ao shopping do próximo fim-de-semana, helás, o «grosso» que não lhe liga peva...), com uma intimidade própria de quem nunca há-de partilhar os mesmos lençóis.
Este espécimen, com vagas mas decisivas parecenças ao seu antepassado, o ursinho de peluche, contenta-se com esta relação trovadoresca com a sua ama. E embora a deseje secreta e intimamente, o máximo a que pode aspirar é que ela o apresente a uma sua amiga com uma boa carta de recomendação. E a amiga, desesperada que está porque o «grosso» por quem anda enamorada está a sair agora com a sua vizinha do 5º esquerdo (cientificamente conhecida como “aquela vaca!”), aceita dar guarida a este desvalido sentimental, que costuma treinar às-noitinhas-à-frente-do-espelho-do-seu-armário-do-quarto-em-madeira-de-pinho-que-os-pais-lhe-ofereceram-quando-fez-15-anos a fazer de grosso, qual de Niro em Taxi Driver.

Finalizada que está a elencagem dos três tipos de homens que existem no universo feminino outra questão surgiria: que tipo de homem é o preferido pelas mulheres. Tendo uma vertiginosa opção pelo grosus trogloditus, o ideário mulheril está polvilhado por electrianas imagens do homem perfeito (cientificamente, patres nostrum) que faria a síntese das qualidades dos três géneros, expurgando de igual forma os seus espúrios excessos. Contudo, e na impossibilidade física, química, genética e futebolística de existir um homem que se assemelhe fisicamente ao Cary Grant, tenha o carácter de Oskar Schindler e o saldo bancário de Bill Gates, as mulheres optam pelo «grosso». Ou seja, metamorfoseando a questão: as mulheres sonham com o Arquitecto, mas acabam de beicinho caído pelo Trolha. Isto é a grande vingança divina por Eva ter oferecido a maçã a Adão e não a Deus...

 

O Rei do Abomey


Ontem, o Condado teve a honra de receber a sua primeira visita oficial no seu curto historial. O Rei do Abomey, herdeiro do trono do Benim chegou pela manhã de ontem ao Forte de S. João Baptista de Ajudá, com o intuito de se inteirar dos nossos trabalhos neste território africano e estabelecer futuros projectos de cooperação. O Rei viajou até Ouidah na companhia de uma numerosa comitiva do seu reino localizado no interior do país, não dispensando a presença das suas três esposas.

O período matinal foi preenchido por discursos oficiais e exibições da mílicia paramilitar que realiza a segurança do nosso Forte. Seguiu-se uma longa audiência em privado com o Conde de Piornos, governador do Forte que se socorreu do mordomo Jean como intérprete dos dialectos tribais. O Rei do Abomey, destacou os laços ancestrais do seu povo com os antigos colonizadores portugueses que, celebraram inúmeros tratados de paz e comércio com os seus antepassados. Relembrou ainda, as propriedades místicas da fortificação. Em tempos passados, muitos enfermos deslocavam-se ao Forte sob a protecção divina de S. João Baptista com o objectivo de obter curas miraculosas para as suas maleitas.

O almoço foi servido na praia, ocasião em que ficou bem patente o apetite voraz deste monarca africano. A tarde foi ocupada com visitas a vários departamentos do nosso Estado utópico. O Rei ficou visivelmente impressionado com a Escola de Língua Portuguesa, com o posto médico recém-inaugurado e com a fazenda que permite a auto-suficiência alimentar dos residentes no Condado.
Ao cair da noite, foi realizada uma visita aos treinos do Atlético do Condado administrados por Tony-Duque do Mucifal. Aproveitou-se a ocasião para tornar o Rei do Abomey, sócio honorário do clube e foi-lhe concedido lugar cativo no camarote real do Estádio da Amizade.

Seguiu-se um enorme banquete na sala de convívio do Forte, onde constaram vários pratos de caça africana que fizeram as delícias dos comensais. Após o repasto, foram feitas várias apresentações de danças africanas e números de adestramento de animais selvagens.

O momento diplomático mais delicado ocorreu, quando a noite já ia avançada. O monarca insistiu numa visita ao V Império strip-club, propriedade do Visconde de Cunhaú, remetendo as suas esposas para o acampamento que montou junto ás muralhas do Forte. Entusiasmado pelo álcool, o Rei do Abomey ficou bastante excitado pela beleza e exotismo das dançarinas da boite que, se esquivavam das suas mãos furtivas. A situação ameaçava tornar-se caótica quando, por volta das 03h da madrugada alguns responsáveis do Condado, conseguiram carregar em ombros o nobre dignatário rumo ao acampamento real.

Hoje pelo final da manhã, a comitiva real levantou o acampamento e pôs-se a caminho do interior. O Rei enfatizou com agrado a recepção de que foi alvo e, convocou o Governo do Condado para uma visita ao seu território nos próximos meses.

27 setembro, 2006

 

Portugal e o Turismo

Temos hoje, e pela segunda vez no espaço deste blog, um texto de "outsourcing" que nos foi fornecido pelo nosso amigo e colega destas lides LoiS e que se refere a uma efeméride que se celebra hoje, deixamos-lhe a palavra e o nosso agradecimento.

Hoje comemora-se o dia mundial do turismo ( 27 de Setembro ), é propício então falar do Turismo no meu país - Portugal :

Foi recentemente apresentada a Conta Satélite do Turismo de Portugal, que se trata de um instrumento estatístico fundamental para a medição rigorosa do peso do Turismo na economia nacional e o perfil de cada um dos aspectos deste sector estratégico para o nosso desenvolvimento. Na apresentação foram referidos os primeiros valores, os já trabalhados, ficando os resultados mais actuais e recentes para um futuro próximo.

Assim, oficialmente já temos uma base para falarmos naquilo que em conversas ia sendo referido já à algum tempo - na altura tendo como fonte diferentes origens de valores – nomeadamente, que a despesa em consumo turístico aproximou-se dos 10% (9,83%) do PIB nacional, no período que mediou entre 2000 e 2002.

Por exemplo, outro indicador aferido de extrema importância, foi o de que entre 2000 e 2001 a taxa de crescimento do emprego no Turismo foi de 2,6%, enquanto que no total da economia apenas foi de 1,8%. O sector confirma-se, assim, como um dinâmico gerador de emprego.

A Conta Satélite do Turismo é a segunda de que Portugal dispõe, logo após à da saúde, e está prevista no PENT (Plano Estratégico Nacional do Turismo).

Introduzi aqui o PENT propositadamente para Vos referir quais são os objectivos futuros para Portugal como destino turístico, assim, este Plano Estratégico Nacional para o Turismo, que tem como meta o ano 2015, pretende ser a base estratégica do desenvolvimento do sector, tem como objectivo último fazer com que o Turismo venha a contribuir ainda mais para o PIB nacional.

O PENT, entre outros assuntos que aqui não referirei, definiu com prioridades o desenvolvimento de novos pólos de atracção turística, designadamente o Alqueva, Litoral Alentejano, Oeste, Douro, Serra da Estrela, Porto Santo e Açores. Tendo em conta as necessidades da procura, as linhas orientadoras do plano teve em atenção as grandes tendências mundiais em termos de consumo, apostando em 10 produtos estratégicos para o país na próxima década: gastronomia e vinho; touring cultural e paisagístico; saúde e bem-estar; turismo de natureza; MICE; turismo residencial; city e short breaks; golfe, turismo náutico e sol&mar.

Um país que “perdeu” a Indústria; a Agricultura; as Pescas, não pode de forma alguma “perder” este sector tão importante e estratégico em que ainda é competitivo. Ainda para mais, com a importância que agora oficialmente os números lhe atribuem.

Poderão os meus amigos pensar que aos países menos desenvolvidos, como é o nosso caso, apenas e só lhes resta o Turismo. Que servem bem de museus do passado; dos folclores; da natureza “virgem”; de reduto para descanso dos povos dos países mais desenvolvidos.

Não esqueçamos porém é o enorme efeito multiplicador que o Turismo induz na generalidade das restantes actividades económicas e que a sua transversalidade potencia o renascimento/crescimento das economias.

Cumprimentos a todos
LoiS

26 setembro, 2006

 

Diogo Freitas da Costa








Numa outra conversa, num outro blog, falou-se de pintura. Lembrei-me então de um jovem pintor português cujos quadros vi num outro blog, a propósito de outra coisa qualquer. A obra fascinou-me imediatamente, talvez pelas influências de Hopper que ali achei. Talvez pelo intimismo reiteradamente presente na obra.
O artista chama-se Diogo Freitas da Costa e, ou eu muito me engano ou ainda vamos ouvir falar muito dele.
Este é o retrato do artista enquanto jovem.

 

Futebol de Leste


Sempre tive uma simpatia especial pelas equipas do Leste europeu. Lembro-me que desde criança, torcia para que calhassem estas equipas ao meu Sporting por ocasião dos sorteios da UEFA. No final da década de 80, clubes como Steaua de Bucareste, Dínamo de Kiev, Torpedo de Moscovo, Ferecvaros, CSKA Sofia ou Estrela Vermelha de Belgrado povoavam o meu imaginário futebolístico. Os jogos ainda disputados além da Cortina de Ferro, campos cobertos de neve, jogadores com nome impronunciáveis e estádios com um ambiente infernal fazem ainda parte das minhas memórias púberes.

O declínio destes clubes sucedeu após a queda do Muro de Berlim. Consequentemente as regras do mercado aberto invadiram o mundo do futebol e, grande parte dos astros do futebol do leste passaram a actuar na Europa Ocidental.

Amanhã, o Sporting desloca-se à mítica cidade de Moscovo para disputar a segunda jornada da Liga dos campeões, frente ao Spartak. O futebol russo vive tempos de mudança e creio que a médio prazo terão um dos campeonatos mais competitivos do mundo, graças à boa saúde financeira dos seus obscuros dirigentes.

Esta partida servirá para revisitar o meu imaginário, embora a situação a do Leste europeu se tenha modificado profundamente. Estou confiante numa vitória leonina, mas depois do balde de água fria imposto pelo CSKA de Moscovo em 2005, já não digo nada... Pensando melhor, talvez um empate não seja assim tão mau!

25 setembro, 2006

 
Sempre que regresso a Portugal um dos lugares obrigatórios de peregrinação é a Fnac. Por qualquer razão masoquista passo ali horas a folhear os livros que nunca lerei e os discos que nunca ouvirei. Normalmente sei bem o que quero comprar de cada vez que lá vou, até porque passo meses a fio a fazer listas de coisas que quero comprar. E como tento estar minimamente a par das novidades editoriais e dos novos lançamentos discográficos raramente me deparo com grandes surpresas. Mas desta última vez isso aconteceu.

Em boa verdade nem sequer fui eu que o encontrei, mas vasculhando na secção de guias turísticos deparámo-nos com um estranho livro sobre Lisboa da autoria de... Fernando Pessoa.
Bom, toda a gente sabe que Pessoa foi extremamente prolífero na sua exígua vida. E também que deixou a sua obra anarquicamente dentro de uma arca na qual os investigadores têm de decifrar e (tentar) organizar os cerca de 27 mil documentos que aí se encontram. Pensámos que seria então uma espécie de recolha de textos dispersos de Pessoa sobre Lisboa. Mas para grande surpresa nossa não o era. O livro entitulado "Lisboa: O que o turista deve ver" editado pela Livros Horizonte é uma novidade editorial, mais propriamente de Fevereiro do corrente ano.

O livro é prefaciado pela Prof. Teresa Rita Lopes, precisamente a coordenadora de um dos grupos de investigadores que anda às voltas com o espólio pessoano. Relata-nos a professora da Nova que o grupo por si coordenado deparou-se, a páginas tantas, "com um texto seguido, completo, dactilografado - coisa rara no espólio pessoano! - que era nem mais nem menos que um guia pronto a ser publicado dessa Lisboa a que Pessoa chamou seu «lar»". Este guia estava originalmente escrito em inglês -Pessoa era bilingue-, num registo claramente turístico, sem vestígios visíveis da pena poética do autor, em que Pessoa percorre os ex-libris da capital, deparando-se com locais de interesse arquitectónico, artístico, intelectual ou simplesmente de lazer. O livro, cuja datação provável é 1925, inserir-se-ia num projecto maior, bem à imagem do autor de "Mensagem": um rol muito mais amplo de publicações que visava dignificar Portugal face à restante civilização europeia.

Depois de o comprar perguntei aos meus amigos ainda residentes aí no burgo se haviam ouvido falar do livro. Já não digo uma edição especial do JL, esse pasquim que é frequentado pela corja de amigos do Vasconcelos! Nem tão pouco uma peça daquelas de "encher chouriços" num dos quatro canais de televisão, emparelhado entre o novo namorico de um qualquer "socialite" da nossa praça e a actuação da véspera dos D´Zrt em Freixo-de-Espada-À-Cinta! Eu contentava-me com um certo "frisom" do boca-a-boca no nosso mundo académico. Acontece que nem isso! Um livro inédito de Pessoa é editado; em que o autor havia tido o cuidado de o dactilografar e organizar; cujo propósito seria tão nobre como aquele que acima se citou... e nada! Bem sei que não é a última pérola desse escrevinhador incansável que dá pelo nome de Paulo Coelho, ou dessa flausina armada em Marguerite Duras da Lapa que é a Rebelo Pinto, nem sequer o último repositório de banalidades da lavra do filho do doutor Jacinto, mas bolas... era preciso vetar um dos nossos dois maiores escritores de sempre a esta vexação, a este desprezo?

Bem sei que Pessoa está «démodé» (lembro-me que a minha professora de Literatura Contemporânea Portuguesa na FLUL, quando abordava o Modernismo considerava Sá-Carneiro a figura de proa do movimento, enquanto Pessoa era uma espécie de figurão que havia acidentalmente passado por ali), talvez porque cada vez são mais claras as suas orientações políticas (havemos de voltar a este tema um destes dias), mas é sintomático da alma de um povo que se legue ao mais perfeito desprezo a obra de um dos seus maiores.

 

António, um rapaz de Lisboa


Estamos de regresso às produções nacionais nas nossas sessões cinéfilas do Condado. Desta feita, trata-se da adaptação para cinema da homónima peça teatral, da autoria de Jorge Silva Melo. Tal como o título indica, o filme retrata o quotidiano de um jovem lisboeta, morador no bairro dos Olivais. A obra espelha com exactidão alguns dilemas da entrada na vida adulata, a falta de objectivos da juventude urbana, a protecção maternal omnipresente nas nossas vidas e o refúgio nos vícios para iludir o tédio.
A realidade social retratada no filme não será muito actual, mas de qualquer modo sabe-se que os tempos evoluiram, as modas e tendências vão-se alterando, mas ainda subsiste o vazio existencial em muitos de nós.

Esperemos que a exibição desta noite não seja afectada pelas chuvas tropicais, como ocorreu na semana passada. Já não bastavam os mosquitos que nos massacram no drive-in...

Título Original: António, um rapaz de Lisboa
País de Origem: Portugal (2000)
Realização: Jorge Silva Melo
Elenco: Ivo Canelas
Lia Gama
Marco Delgado
Artur Ramos
Sylvie Rocha
Joana Bárcia...

 
Kid Abelha - Pintura Intima (ao vivo)

23 setembro, 2006

 

O Brasil eleitoral visto por um estrangeiro

Esta foi mais uma semana agitada no Brasil político. A história já se conhece. Vários colaboradores próximos ao presidente Lula da Silva foram detidos, na posse de elevada quantia em dinheiro vivo para aquisição de provas incriminatórias contra adversários políticos. O principal alvo seria José Serra, candidato pelo PSDB ao governo do Estado de São Paulo, alegando o suposto envolvimento do político tucano na aquisição de ambulâncias de forma irregular ainda durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Mais uma vez, Lula não sabe nem viu nada, exigindo apenas como lhe cumpre, uma rigorosa investigação do caso e punição dos responsáveis pelas ilegalidades. Tudo isto me leva a pensar que Lula é um completo idiota que não sabe escolher os seus parceiros, ou então, pretende escamotear uma vez mais uma situação duvidosa do seu Governo. E desta feita, custa-me seriamente a acreditar na sua inocência, visto que um dos detidos era seu assessor directo, pago com dinheiro do Estado e cujo gabinete no Palácio do Planalto é bem próximo ao do presidente. Resta-nos aguardar o desenlace deste Watergate dos trópicos...

Mais anecreditável ainda é, verificar que todos estes sucessivos escândalos políticos em nada abalam a popularidade do presidente Lula junto do eleitorado. As sondagens desta semana revelam-se uma vez mais, largamente favoráveis ao candidato do PT.
Pessoalmente, já não tenho esperanças que Geraldo Alckmin consiga contrariar a presente tendência de voto e, duvido mesmo que obrigue Lula a disputar uma segunda volta eleitoral. È visível apenas, uma ligeira subida percentual de Alckmin junto das classes com maior nível de escolaridade e índices de rendimento mais elevado. No entanto, não podemos esquecer que a grande massa eleitoral do Brasil é constituída por pessoas que vivem no limiar da pobreza, com pouca instrução e sem qualquer tipo de espírito crítico. No seu imaginário, Lula da Silva nunca deixará de ser o seu digno representante no Poder e temem perder as pequenas regalias obtidas durante o seu mandato. A existência do mensalão, máfia das sanguessugas ou ambulâncias, dossier Serra, CPIs ou até mesmo a corrupção estadual e municipal, pouco significam para estes estratos populacionais. Entendm-nas como as negociatas dos poderosos que aceitam com passividade desde que lhes sobrem algumas esmolas no final do mês.

Como estreangeiro residente no Nordeste do Brasil, assisto diariamente a situações de pobreza que me indignam. O fosso entre ricos e pobres nesta região, ainda é mais evidente e mesmo eu, acabo por me inserir numa classe social previligiada. Possuir uma casa própria, ter acesso a uma saúde condigna e praticar uma alimentação com valor nutritivo, são ainda sonhos para uma larga fatia da população local. Esta terra proporcionou-me uma das maiores lições de vida, aprendendo a ser feliz com o que tenho e respeitando mais o próximo. Consegui libertar-me de alguns vícios pequeno-burgueses da Europa, preenchi alguns vazios da minha existência e ainda me comovo com a alegria de um povo que é feliz com tão pouco.

Não adianta falar de desenvolvimento no Brasil, esquecendo a base primordial que é a Educação. Infelizmente, o ensino público brasileiro é precário e o acesso aos colégios particulares é apenas acessível a uma minoria, tornando-se desta forma a ascensão social uma tarefa quase imposível. As actuais elites, são os filhos das elites de outrora e, tudo indica que esta situação se perpetuará por mais umas décadas. A educação verdadeira mente democrática é o grande desafio do Brasil contemporâneo. E quando falo em Educação, não me refiro apenas a escolaridade, já que também existem graves lacunas de formação cívica e social. È urgente, uma reformulação das políticas de natalidade e educação sexual do país. Não é admissível, nesta época que vivemos, existirem famílias de baixos recuros com cinco ou seis filhos para sustentar e um elevado índice de gravidez na adolescência. Também são necessários esforços mais eficazes, para apoiar as famílias mais carentes que desistimulem o andono escolar. Só desta forma será possível acabar com o espírito de subsídio-dependência, estimular a livre iniciativa e dotar o país com melhores recursos humanos.
O desenvolvimento económico do Brasil, tem que caminhar a par e passo com a Educação senão corre-se o risco de se criarem maiores disparidades sociais, criando fenómenos de exclusão que, a breve trecho se transformam em criminalidade.

Creio que me dispersei um pouco nas minhas considerações sobre oBrasil, ou pelo menos, da realidade que me é mais próxima. Apesar de tudo, creio que desta forma será mais fácil para vocês que estão na Europa, poderem compreender a base social que irá reeleger Lula da Silva para mais um mandato presidencial. No fundo, até poderemos coinsiderar este fenómeno desculpável. Nem todos tiveram a sorte de ter uma formação universitária como nós, de viver em casas confortáveis, de ter empregadas domésticas e ter comida na mesa todos os dias.
De qualquer modo, obrigado Brasil! Fizeste-me crescer e ver a vida com outros olhos. Um país que se estranha e que mais se entranha, apesar de todas as dificuldades.

22 setembro, 2006

 

Eu quero ser um agente secreto!

"O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público não pode deixar de ficar surpreendido negativamente com a diferença de tratamento dada pelo Governo aos serviços de informação de segurança e aos serviços de investigação de combate à criminalidade, como é o caso da Procuradoria-Geral da República e a Polícia Judiciária, em relação aos quais preside a sempre invocada contenção orçamental”, lê-se num comunicado da associação sindical. Ouvido pelo CM, António Cluny, presidente do SMMP, referiu que o sindicato quis apenas mostrar que está “atento” e disponível para “dialogar com o Governo” sobre esta questão. “Não partimos de posições fechadas, vamos ter que discutir isto em conjunto”, disse o procurador, acrescentando: “Não pode haver realidades diferenciadas.”
DESPESAS EM SEGREDO - A proposta de revisão da lei orgânica do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), discutida na passada sexta-feira no Parlamento, prevê, entre outras coisas, casa mobilada para o secretário-geral, chefe de gabinete, directores e directores-adjuntos, ou subsídio de compensação a fixar pelo primeiro-ministro. Por outro lado, terão ainda direito a abonos até 20 por cento dos ordenados, suplementos sem limites definidos e ajudas de custo que podem exceder o limite legal. As despesas são protegidas pelo segredo de Estado. Do lado dos magistrados, pelo contrário, o Governo determinou a sua exclusão dos serviços sociais do Ministério da Justiça. O SMMP lembra ainda que a Procuradoria-Geral da República divulgou recentemente o Relatório Anual, referente a 2005, “onde se sublinham as graves dificuldades financeiras com que se debate para levar a cabo a sua missão”, lembrando que a resposta passa sempre pelo argumento da “contenção orçamental”. “Fica assim demonstrado, mais uma vez, o critério de dois pesos e duas medidas utilizado pelo Executivo nestas matérias”, considera o sindicato presidido por Cluny, que pede um esclarecimento do Governo “para esta diferença”.
CASAS MOBILADAS- A proposta de revisão de lei orgânica do SIRP prevê casa mobilada para o secretário-geral, chefe de gabinete, directores e directores-adjuntos, ou subsídio de compensação.
AJUDAS DE CUSTO - Os membros do gabinete do secretário-geral, funcionários e agentes de estruturas comuns que se desloquem em serviço, têm direito a ajudas de custo diárias e abono para despesas de transporte.
SUPLEMENTOS - A proposta de alteração da lei orgânica prevê também direito a abonos até 20 por cento dos ordenados, suplementos sem limites definidos e ajudas de custo que podem exceder o limite legal.
DESPESAS - Em 2005, as despesas com os serviços de Informações foram de 26 797 milhões de euros: 15 258 milhões para o SIS, 10 431 milhões para o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e 1108 milhões para o SIRP."

in Correio da Manhã (22/09/2006)

Mais uma vez o corporativismo, a fogueira de vaidades e invejas sempre presentes no funcionalismo público nacional. Há tempos atrás,defendi aqui um reforço e desenvolvimento dos orgãos de inteligência nacionais e penso que as regalias acima descritas se inserem nesse tipo de programa. E vendo bem, nem são previlégios assim tão aberrantes para causar tanto alarido na ala dos Magistrados. Eu cá por mim, sinto-me tentado a enviar o meu CV para me tornar um agente secreto ao serviço na nobre nação portuguesa! :)

 

A Guerra das Religiões

Hoje, gostaria de vos sugerir a audição de um interessante debate sobre a Guerra das Religiões e, seu actual papel nos conflictos mundiais. A conversa teve lugar nos estúdios da Rádio TSF, foi moderada pelo jornalista Manuel Vilas-Boas e contou com a presença de líderes religiosos das principais comunidades existentes em Portugal. Para audição façam o favor de clicar no título do post...

21 setembro, 2006

 

A Persistência da Memória

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, convidou o vereador comunista Ruben de Carvalho, habitual responsável máximo pela organização anual da festa Avante!, para coordenar as acções que a edilidade desenvolverá de forma a manter viva a memória da repressão do Estado Novo. O vereador não deixou margem para grandes dúvidas e polémicas: "Não vou ter um papel executivo, nem vou ser remunerado", tendo sido estas as condições por si colocadas para aceitar o convite camarário. O seu papel, como aliás fez questão de deixar claro será o de “articular as propostas existentes e dar uma visão de conjunto às iniciativas que envolvam a autarquia". Recordamos que Ruben de Carvalho é um dos subscritores do movimento cívico Não Apaguem a Memória! e que, durante o regime salazarista, foi preso nove vezes, tendo conhecido as prisões do Aljube e de Caxias, bem como a sede da PIDE na rua António Maria Cardoso.

Ao que parece estas iniciativas passarão essencialmente por tornar a cisterna que existe na citada rua do Chiado num museu e criar um roteiro evocativo da repressão salazarista. Até aqui nada a obstar. Mas desde logo ressaltam algumas curiosidades. Relata a notícia do Público que Ruben de Carvalho terá colocado esta questão ao PCP (como bom comunista obediente que é, até para não o começarem a apagar das fotos e depois aparecer aí num pinhal de Belas, ou coisa que o valha...) antes de ter aceite o convite. Excusado será dizer que o PCP concordou com esta iniciativa (arriscaria a dizer que algures na Soeiro Pereira Gomes haverá muito boa gente a esfregar as comunas mãos...). É agradável observar que as pessoas ainda não se fartaram de ver a história contemporânea de Portugal escrita e reescrita pelo “esquerdalho”, com a mesma mitificação das mesmas personagens (maxime o Velho dos Olivais) e a diabolização dos outros todos (desde o "trotskista" Júlio Fogaça ao "nazi" do Salazar). Enfim, os portugueses cada vez mais me parecem umas crianças perpétuas, daquelas que gostam de ouvir repetidamente a mesma história, e que quando o narrador, farto da monotonia, decide mudar uma vírgula ou pôr em causa a castidade da princesa encantada, desatam logo num choroso berreiro a vilipendiar o revisionista “crooner”. Resta-nos uma consolação: um museu criado e dirigido pelo PCP estará condenado a ser um sítio entregue às moscas. Para ouvir a história do costume sai mais barato comprar o Avante!

Outro dos pontos que despertam interesse é que Ruben de Carvalho compromete-se até Janeiro do próximo ano a ter pronto um relatório sobre essas mesmas iniciativas que servirão também como “contributo para a comemoração do centenário da instauração da república, que se celebra em 2010”.

Bem, alguém se me importará de explicar o que é que o cu (leia-se o 5 de Outubro) tem a ver com as calças (leia-se a repressão do Estado Novo)? Estará o PCP a querer dizer que a Monarquia CONSTITUCIONAL prévia a 1910 é comparável ao Estado Novo? Estará o PCP a afirmar que o regime monárquico era também repressivo e que essa repressão terá exactamente terminado com a chegada dos acólitos de Afonso Costa? Estará o PCP, inadvertidamente suponho, a esquecer-se da Formiga Branca e da Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921? Ou o PCP está apenas a fazer uma espécie de suma teológica com todas as suas datas festivas. Se assim for vamos todos celebrar também a revolução de Outubro ou a comuna de Paris ou o nascimento de Estaline (celebrarão eles o aniversário da sua morte?)?

Citando livremente o antigo PGR, Cunha Rodrigues: “Os portugueses têm a história e a memória que merecem”.

 

Viagens no Benim












Tenho o prazer de vos apresentar algumas fotos do Benim, país onde está localizado o nosso enclave nacionalista. Trata-se de um dos territórios mais místicos de África, berço da cultura voodoo e de alguns dos mais ferozes reinos do continente. Uma boa proposta para quem gosta de viagens do tipo aventura...


1- Forte de S. João Baptista de Ajudá; 2 - Aposentos do Governo do Condado no interior do forte; 3 - Canhão português nas muralhas do forte; 4 - Templo da Python em Ouidah; 5 - Estátua fetichista; 6 - Ritual de Voodoo; 7 - Aldeia de pescadores perto do forte.


 

Limitações minhas


Confesso que não entendo a última medida apresentada pelo Ministro da Saúde, Correia de Campos, veio Sua Excelência dizer aos jornalistas que ia aumentar as taxas moderadoras do SNS para os internamentos e cirugias. Claro que a primeira pergunta que se faz nestas circunstâncias é "E quanto é que o Estado ganha com isso?" e a resposta, deveras elucidativa foi que era um valor irrisório.
Eu nem quero parecer do contra nem nada, mas será que sou só eu que vejo que só vai para o SNS quem não tem mesmo outra hipótese? Que a maioria das pessoas que são internadas nos hospitais públicos, não têm outra hipótese? Que os médicos decidem os internamentos face à gravidade dos casos? E cirugias, será que se uma pessoa tiver a possibilidade de ser operada no privado quer ser operada nos civis? Ou será que esta é mais uma medida que vai afastar muita gente dos tratamentos de que efectivamente necessitam?
Se alguém entender o que se passa, por favor ajude-me que eu já não percebo nada de nada do que se passa neste país.

20 setembro, 2006

 

O Valente Valentim

Uma amiga fez-me chegar às mãos um artigo do 24 Horas onde consta o "curriculum" do Major Valentim Loureiro, célebre passarão da nossa praça. É de salientar que o ex-presidente do Boavista é tradicionalmente visto como um "autarca-modelo", epiteto que em Portugal podemos encontrar atribuído a outros edis dos 4 grandes partidos portugueses, como Isaltino Morais, Ministro dos Santos, José Raul dos Santos do PSD, Narciso Miranda, Fernando Gomes, José Luis Judas, Edite Estrela e Fátima Felgueiras do PS, Avelino Ferreira Torres e Daniel Campelo do CDS e Maria Emília do PCP.

Aqui fica pois a cronologia mediática do homem que mais recentemente se viu "embrulhado" nos casos "Apito Dourado" e "Mateus", ou consequente "Liga Caos":

- Em 1958, com apenas 20 anos (de pequenino...), é acusado de falsificar a assinatura de um colega na Escola do Exército para poder receber o seu ordenado. É expulso da escola (e vai uma...).

- Em 1965, é nomeado para comandar do Depósito Avançado de Víveres nº 823 em São Salvador, em Angola. Adjudica o fornecimento de batatas a um comerciante, de nome Manuel Marques Cabral pelo preço de 4$00 o quilo, quando na verdade o seu preço real era 3$50. Os 50 centavos restantes eram divididos da seguinte forma: 35 para o nosso Valentim e os restantes 15 para um outro oficial. Com este esquema Valentim Loureiro, na altura capitão, açambarca 258.505$85, o que equivaleria hoje a 15 mil contos. É expulso também do exército (e vão duas...). Em 1980 é reintegrado e promovido a major (terá sido por incentivos prestados ao incentivo do cultivo da batata?), passando automaticamente à reserva (vide tema das "alegres" reformas).

- Em 1973 é multado pelo Banco de Portugal por emprestar dinheiro aos seus clientes das lojas de electrodomésticos (ah! os electrodomésticos... a ante-câmara da sua "morceau de bravure" na política autárquica...) para que estes jogassem na Bolsa.

- Dois anos mais tarde é implicado no MDLP como financiador do movimento (sempre em boas companhias). Segundo Manuel Macedo (lembram-se da Associação Amizade Portugal-Indonésia? Antes da independência de Timor-Leste e da qual era membro outro militante do CDS tal como Macedo, Pedro Feist...), outro "transparente" empresário da região Norte e também ele ligado ao MDLP, o major terá aproveitado as ligações com esse movimento para fazer alguns negócios, tendo ficado com o dinheiro de um livro que ia ser editado pela igreja de Braga (a esta história só faltava pois o Cónego Melo) e, segundo a mesma fonte, estaria implicado na morte do empresário Ferreira Torres (também ele do Norte, também ligado ao MDLP, igualmente "transparente" -por Deus! era irmão de Avelino Ferreira Torres...-) .

- Em 1980 é condenado pelo Tribunal de Pombal a pena de prisão, posteriormente substituída por multa, por injuriar um elemento da GNR.

- Em 1990 envolve-se num incidente com guardas da antiga 6ª divisão do Porto, chegando a ser detido e posteriormente expulso (e vão três...) em circunstâncias todavia ainda não totalmente esclarecidas (como tudo na vida do nosso major).

- No ano seguinte deposita num balcão do BCP um cheque de 33 mil contos de um banco da Costa Rica (?). O cheque acabaria por ser "careca" e o caso vai a tribunal. O major é ilibado por ter sido vítima de fraude (o pobre...).

- Em 1995 é acusado por um polícia presente num jogo do Boavista porque, supostamente, o major lhe terá chamado "analfabeto" por "não ter conhecido o major que até o Presidente da república conhecia".

- Em 1999 terá insultado vários agentes da autoridade na Rua de Fez com o seguinte naco de prosa: "Vocês são uma merda. A Polícia precisa de um comandante que vos ponha na ordem. Ainda bem que vai haver polícia camarária."

- Três anos mais tarde terá reincidido no crime, tendo insultado um polícia que procedia à identificação da esposa do major por esta ter estacionado o carro em cima do passeio e no enfiamento de uma passadeira (sendo mulher, e ainda por cima esposa do major, que melhor sítio para estacionar?). Valentim recusa depois identificar-se, alegando que o polícia o conhecia muito bem (será que já lhe tinha dado alguma varinha mágica?).

Do citado artigo constam igualmente os seus cargos:

- Presidente da CM de Gondomar;
- Presidente da LPF;
- Presidente da Junta Metropolitana do Porto;
- Vice-Presidente do Congresso Nacional do PSD;
- Presidente do Conselho Administrativo do Metro, SA;
- Membro do Conselho Geral da Associação Nacional de Municípios Portugueses;
- Presidente honorário do Boavista;
- Membro do Conselho Geral do Boavista;
- Presidente da Mesa da Assembleia do PSD da Secção de Gondomar.

E constam também as suas posses:

- a "Fábrica do Ferro", companhia de Fiacção de Tecidos de Fafe;
- o Restaurante Degrau Chá (Porto);
- Fábrica de conservas (Gondomar);
- Quatro casas de habitação e quatro propriedades;
- Oito lojas;
- 28 arrecadações e 23 lugares de estacionamento nos concelhos do Porto, Viseu, Vila do Conde, Loulé e São Pedro do Sul;
- Mais de 100 mil contos investidos em mais de 20 empresas;
- 4 automóveis: Porsche 924, BMW 728i, Mercedes 280 S e Volvo 245;
- Rendimento anual de 30 mil contos (dados de 2000).

Citando livremente o antigo PGR, Cunha Rodrigues: "os portugueses têm a política local que merecem!"

19 setembro, 2006

 

PGR

"O Presidente da República vai nomear o Juiz Conselheiro Fernando José Matos Pinto Monteiro como Procurador-Geral da República, estando a tomada de posse marcada para o próximo dia 9 de Outubro. Divulga-se, seguidamente, uma nota informativa relativa à decisão do Presidente Aníbal Cavaco Silva.Nota Informativa:"Completando-se em 7 de Outubro próximo os 6 anos do mandato do actual Procurador-Geral da República, o Governo propôs a nomeação, para seu substituto, nos termos do art.º 133, alínea m) da Constituição, do Senhor Juiz-Conselheiro Dr. Fernando José Matos Pinto Monteiro.A proposta mereceu o acordo do Presidente da República, tendo a posse sido fixada para 9 de Outubro."
via Página Oficial da Presidência da República Portuguesa (19/09/2006)

Esta é uma área que não domino muito bem, mas parece-me deveras positivo que Pinto Monteiro tenha já ocupado o cargo de Alto Comissário Adjunto na Alta Autoridade Contra a Corrupção. Bem que precisamos, já que os nossos níveis de corrupção já se aproximam perigosamente dos índices duma América Latina ou Europa de Leste. Esperemos também, que esta nomeação sirva para estabelecer uma paz política entre o Governo e a Presidência da República.

 

Será desta?

"Na Síntese Económica de Conjuntura de Agosto, hoje divulgada, o INE refere que, «nos últimos três meses, o indicador de clima económico recuperou, abandonando o patamar em que se encontrava estabilizado e atingindo em Agosto o melhor valor dos últimos dois anos».O INE regista, também, que o indicador de actividade económica, elaborado com a informação disponível até Julho, «interrompeu a fase descendente dos três meses anteriores».Ainda em Julho, nota o INE, os indicadores de curto prazo revelaram «sinais favoráveis em todos os sectores, indústria, serviços e construção"».
via TSF online (19/09/2006)

Vamos aguardar que seja esta, a verdadeira arrancada da economia europeia. E que ela tenha reais repercussões no nosso país com aumento sinificativo de oportunidades de emprego.

18 setembro, 2006

 

A Selva

Apresentamos pela primeira vez, nas nossas sessões de segunda-feira, um filme brasileiro. Cerca de 80% da nossa programação é de origem lusófona e convém seguir com atenção as interessantes produções que se fazem do outro lado do Atlântico.

Alberto é um jovem monárquico português que, em 1912, encontra-se exilado em Belém do Pará,Brasil. Através do seu tio, Alberto é contratado por um capataz para trabalhar no seringal de Juca Tristão, em pleno coração da selva amazónica. Após uma longa viagem pelo rio Amazonas, aporta no seringal Paraíso e vai trabalhar na extracção da borracha sob a protecção do cearense Firmino. Depois de um difícil período no coração da selva, Alberto é colocado no armazém do seringal e aí passa a conviver com Juca Tristão - o patrão, Velasco e Caetano - capatazes, Guerreiro - gerente, sua bela mulher D.Yáyá, além de um velho e misterioso negro, antigo escravo, chamado Tiago. Em pouco tempo, Alberto apaixona-se por D.Yáyá, envolvendo-se com ela num romance perigoso.

Uma boa adaptação do romance homónimo de Ferreira de Castro, onde o português Diogo Morgado tem uma excelente intepretação ao lado do elenco brasileiro de alta qualidade.

Título Original: A Selva
País de Origem: Brasil/Portugal/Espanha (2002)
Realização: Leonel Vieira
Elenco: Diogo Morgado
Maitê Proença
Cláudio Marzo
Gracindo Junior
Roberto Bonfim
José Dumont...

 
Herman José vintage

Confesso que a minha adolescência foi bastante influenciada pelo humor de Herman José. Pena que hoje o seu trabalho seja apenas uma sombra do passado. Ao que tudo indica, estes indivíduos degladiam-se por uma freguesia no concelho da Arruda dos Vinhos! :)

17 setembro, 2006

 

Os Filhos da Costa do Sol

Nestes derradeiros dias de Verão português, gostaria de vos sugerir a leitura de um livro já um pouco antigo. Não será literatura de primeira linha, mas gosto deste livro porque aborda com clareza uma época conturbada da nossa história e tem por cenário a Costa do Estoril que me é bastante familiar, fazendo afluir na minha mente todo um manancial de memórias recentes.

Retrato de uma geração inquieta, alucinante viagem por um mundo de droga, juventude, sexo e esperança.
A vida despreocupada e doce na linha do Estoril, mas também a recusa de uma sociedade fechada e dos seus preconceitos. A procura de situações diferentes, a contestação quotidiana, o conflito de gerações na época agitada que foram os anos entre 1973 e 1977 em Portugal.
Quanto à escrita de Manuel Arouca, arriscaria a afirmar de que se trata de um Bret Easton Ellis à portuguesa, embora com a ausência dos elementos bizarros que caracterizam a obra do norte-americano.
Arouca, publicou ainda, uns anos mais tarde, Ricos, Bonitos e Loucos (Publicações Europa-América), dentro do mesmo género literário. Nestes últimos tempos, dedicou-se essencialmente à escrita de argumentos para telenovelas.

Os Filhos da Costa do Sol - Manuel Arouca - Oficina do Livro (reedição) - 2004

16 setembro, 2006

 

Emprego, consumo e "status" social



"A nova Lei da Imigração pretende ligar a concessão de vistos a imigrantes às oportunidades de emprego que, a cada momento, existam no país. Faz sentido. Mas vivemos em Portugal uma situação curiosa: os imigrantes vêm para cá fazer trabalhos que os portugueses já não querem executar. Acontece na construção civil e no turismo, por exemplo. E começa a acontecer na agricultura. Para estes sectores, onde cada vez mais se encontram estrangeiros a trabalhar, os imigrantes representam uma condição de sobrevivência.Os portugueses, que não aceitam essas tarefas em Portugal, já se dispõem a executá-las no estrangeiro, onde ganham mais. Por isso, como salientou o DN de 9 de Agosto, Portugal continua a ser um país de emigração. Até acontece que as remessas dos nossos emigrantes aumentaram 9,2% nos primeiros cinco meses deste ano.De facto, os portugueses não deixaram de emigrar. Para Espanha, nomeadamente. E a maioria dos que saem é gente pouco qualificada - sobretudo homens jovens. Emigram só porque vão ganhar mais?Com certeza que a melhor remuneração no estrangeiro é um factor de peso. Mas multiplicam-se as notícias sobre portugueses enganados por quem os levou a emigrar, vivendo agora em situações próximas da escravidão. Tais notícias não dissuadem muitos outros de sair do país. Porque não aproveitam, antes, as ofertas de trabalho locais, que parecem só agradar aos estrangeiros? Dir-se-ia que, para quem está desempregado, mesmo um trabalho mal pago e socialmente pouco valorizado será preferível ao subsídio de desemprego. Ora o que vemos é essas oportunidades de emprego, em Portugal, serem desprezadas pelos nacionais (e nem todos emigram), tornando-se necessário recorrer a mão-de-obra imigrante para as preencher.Não era assim há poucas décadas. O fenómeno da imigração é relativamente novo entre nós. E já assume grande importância, não apenas para os sectores acima referidos, como para algumas localidades do interior, que os naturais foram abandonando e que agora sobrevivem graças aos estrangeiros que lá se instalaram.Houve entretanto uma profunda mudança na atitude dos portugueses. As modificações decorrentes do 25 de Abril e do período revolucionário que se lhe seguiu, o crescimento da economia (muito forte até 1973) e o maior contacto com a maneira de viver de outros povos (através dos media, do turismo e da própria emigração) alteraram os padrões de exigência dos portugueses. Tarefas consideradas humildes deixaram de ser aceites pelos portugueses - em Portugal, não no estrangeiro, onde são anónimos desconhecidos e por isso não se envergonham. A entrada para a Europa comunitária, há vinte anos, e a euforia consumista do final da década de 90 convenceram muitos de nós de que, fazendo agora parte do clube dos ricos, deveríamos actuar como tal - como ricos.Não é apenas na área do emprego que essa nova atitude se manifesta. Revela-se, também, nas despesas de consumo que contam, ou que se julga que contam, para o status social das pessoas. Não se trata de uma aberração: para quem conserva ainda fresca a memória da antiga pobreza, o status tem importância.Daí o contraste entre a ilusão de já sermos ricos e a realidade económica. Tal contraste reflecte-se na evolução do endividamento. Com juros baixos (estão a deixar de o ser), as famílias portuguesas endividaram-se para satisfazerem velhas necessidades básicas, mas também para darem resposta às suas novas necessidades de afirmação social.Em dez anos, entre 1995 e 2005, o endividamento dos particulares passou de 30% do PIB para 84%. Na Zona Euro, só as famílias da Holanda têm hoje mais dívidas do que as portuguesas.O problema, aliás, não é só das famílias. As empresas e o Estado central, regional e local têm vivido em larga medida a crédito. Graças ao euro, o défice externo do país já não provoca angústia por falta de divisas, mas esse desequilíbrio terá de ser pago - já está a ser - com a nossa riqueza.Ora o défice externo não tem parado de subir e já atinge cerca de 10% do PIB. É a medida de quanto estamos a viver acima dos nossos recursos. Mas não haja ilusões: poucos irão moderar as suas aspirações em matéria de emprego ou de consumo. A saída para o desequilíbrio entre aspirações e recursos só pode estar no aumento dos recursos. Ou seja, no crescimento económico."

Francisco Sarsfield Cabral in Diário de Notícias (16/09/2006)


 

Estreia vitoriosa



Hoje, o Atlético do Condado fez a sua estreia no campeonato do Benim. O técnico Tony-Duque do Mucifal, obteve o seu primeiro triunfo caseiro frente á Université Nationale du Benin FC, por três bola a uma. Perante um público de 8600 espectadores que quase esgotaram o Estádio da Amizade, o Atlético demonstrou um futebol ofensivo consistente, resultante do entrosamento obtido através da digressão realizada no mês passado.
Marcaram pela equipa do Condado: Sá Pinto, Adebayor e Mário Jardel.
Lá mais para a frente, daremos conta da evolução da nossa equipa neste campeonato africano. Convém recordar que temos como principal objectivo, alcançar o apuramento para as pré-eliminatórias das competições da UEFA na próxima época.

 

A escola

Esta parece ser, indesmentivelmente, uma altura de grandes mudanças neste blog. Aderimos ao Blogs Coligados, o "anacletiano" Sérgio deu ares da sua graça e até a Maria escreveu...
Na senda das novidades (para não dizerem que somos reaccionários!) inauguramos hoje um modelo diferente, que esperamos que se repita no futuro. Pediremos a alguns amigos e comentadores d´O Condado para nos enviarem textos tratando de temas específicos que eles, de alguma forma dominem.
A misteriosa Jade, do blog Ponto cardeal, presenteia-nos com um excelente texto sobre a educação em Portugal, baseado na sua experiência enquanto professora. Esperemos que mais textos se sigam.

PS: Há-de haver algum engraçadinho que irá dizer que só recorremos a este expediente porque estamos com falta de imaginação. Para um espaço de direita conservadora não está nada mal isto de dar voz a pessoas que venham de fora... Além disso, se até o Pacheco Pereira o faz...


A Escola

O Conde de Piornos lançou-me um repto: escrever um texto sobre o estado do ensino em Portugal, segundo a minha experiência pessoal. O que eu vou escrever não deve ser entendido como um tratado; é apenas um texto simples que deve ser lido como um desabafo

Já dou aulas há alguns anos, portanto não me considero uma novata na matéria. Nestes anos tenho verificado, com grande consternação, que o nível de competências dos alunos tem vindo a decrescer de uma forma deveras inquietante. As lacunas encontram-se em questões tão básicas como, por exemplo, o domínio da língua materna. É assustadora a maneira como os alunos se expressam a nível oral e escrito. A culpa não será, à partida, deles, porque nós, os professores, é que os ensinamos, mas será que as responsabilidades nos devem ser imputadas na totalidade?

Vejamos: pelo que me é dado a perceber o ensino ministrado no 1º ciclo já não é feito nos mesmos moldes de há uns anos atrás. Não defendo a imutabilidade nem a estagnação, mas parece-me que o modelo seguido não é o mais eficaz. Com a justificação de que os métodos antigos eram anti-pedagógicos e traumatizantes para os alunos, optou-se por uma via que só tem mostrado não ser eficaz. Perdoem-me os teóricos das novas pedagogias, mas não vejo de que forma é que um ditado pode ser anti-pedagógico e criar traumas nas crianças. Por essa ordem de ideias, várias gerações são constituídas por pessoas traumatizadas. Deve ser essa a explicação para as atitudes de alguns dos nossos políticos! O facto, é que os alunos cada vez escrevem pior e falam pior. Este é, na minha opinião, o primeiro ponto que merece a nossa reflexão.

Ao longo da minha carreira tenho-me confrontado com todo o tipo de professores: aqueles que fazem o mínimo indispensável, os declaradamente incompetentes, os que trabalham de uma forma responsável e os extraordinários. Isto não é, contudo, apanágio apenas e só da nossa profissão. Em todas os tipos de trabalho se encontram bons e maus profissionais. Considero pertinente que se avalie os professores de uma forma séria, porque tenho noção de quão importante é o nosso papel na formação de futuros cidadãos. Porém, a ideia peregrina de realizar um exame que avalia competências na área específica de docência de cada professor como forma de admissão à carreira ou como forma de progressão é, no mínimo ridícula. Caso esta ideia venha a fazer parte do novo estatuto da carreira docente constituirá uma afronta às universidades que certificam os professores como aptos para o ensino; para além disso, milhares de professores que leccionam há anos mas ainda não tiveram oportunidade de efectivar, vêem-se na contingência de ficarem definitivamente excluídos da carreira, no caso de não obterem aprovação no famigerado exame. Quem procede à avaliação? Pelos vistos, os nossos colegas mais velhos. Ora, nem sempre a idade ou os anos de ensino são sinónimos de competência. Este é o segundo ponto que me preocupa.

Outra questão na ordem do dia é o horário de permanência na escola. A maior parte das pessoas achava que os professores eram uns privilegiados porque passavam na escola menos tempo do que as 35 horas semanais. Ora, o que muitos não sabem é que se contabilizarmos todas as horas que um professor passa na escola (incluindo as horas mortas constituídas pelos furos no horário porque a maior parte dos professores não trabalha a dez minutos de casa e como tal tem que permanecer na escola) facilmente ultrapassamos as 35 horas semanais. Atenção, a isto acresce o trabalho de casa. Pessoalmente, não sou contra as 35 horas semanais. É preciso é que as escolas ofereçam condições para que possamos desenvolver o nosso trabalho com eficiência. Para quem não sabe, a maior parte das escolas não possui gabinetes de trabalho, nem computadores suficientes para serem utilizados por todos os docentes. Assim, é difícil optimizar o tempo que se passa na escola. É importante que as pessoas percebam este aspecto.

Outra questão que levantou muita celeuma foram as aulas de substituição. À partida sou contra as aulas de substituição. Acho que todos os alunos têm direito a um feriado. Será que os senhores do ministério se esqueceram como sabia bem um furo inesperado? Mas admitindo que não é aconselhável que os alunos vagueiem pela escola sem nada para fazer, as aulas de substituição nunca poderiam ter sido implementadas da forma desconexa como se verificou que aconteceu em todas, ou quase todas, as escolas do país. Começou-se pelo telhado. Na minha opinião, nem sequer devia existir a designação "aulas de substituição". Se a filosofia que preside ao projecto é ocupar os alunos, então há que criar ateliers, clubes, gabinetes, consultórios, o que quiserem, para manter os alunos saudáveis e alegremente ocupados. Mas isso não se faz num dia, numa semana, tão-pouco num mês. O projecto teria que ser pensado, planificado e posto em prática no ano lectivo subsequente. Só assim seria exequível. O ano passado, na minha escola, as aulas de substituição eram o terror dos professores. Confrontados com turmas que não conhecíamos, rapidamente se esgotou o repertório de filmes. Os jogos didácticos eram, também, rejeitados e então fazer os trabalhos de casa ou estudar, nem pensar. Posso dizer que de todas as aulas de substituição que dei, apenas numa delas, a colega deixou tarefas para a turma realizar na sua ausência. Não estou a culpar os outros professores. Se na escola onde eu estive o ano passado houvesse aulas de substituição para o secundário, podia ter sido eu a não deixar material para os outros colegas. O facto constatado é apenas o resultado de uma medida alinhavada em cima do joelho. Em suma, não será certamente com medidas destas que se irá combater o insucesso escolar. Os alunos vão ficar fartos, extenuados e revoltados porque o que é feito por obrigação não resulta. Em algumas escolas por onde passei, durante os feriados, muitos alunos, por iniciativa própria procuravam a biblioteca ou outro qualquer serviço para ocuparem os seus tempos livres. Há que ponderar esta situação.

Enquanto escrevia este pequeno texto, o ministério avançava com novidades. Primeira novidade: finalmente, constataram que os professores em início de carreira ganhavam mal, pelo que se perspectiva um acerto, uma alteração, um aumento de remuneração. Aplaudo a medida mas pergunto: e os professores que estão na pré-carreira (vulgo, contratados), que são aos milhares e que na sua maioria estão deslocados das suas residências? Segunda novidade: o ministério julga adequado atribuir um prémio ao melhor/melhores professores (não percebi bem..). Um prémio?!!! Eu não quero nenhum prémio por desempenhar bem a minha profissão. Eu quero é que me deixem trabalhar (já pareço o outro) e que me ofereçam as condições adequadas para o fazer de forma a obter sucesso. A medalha ou a taça não me interessam. Prefiro chegar ao final e perceber, com alegria, que os meus alunos aprenderam alguma coisa comigo na experiência partilhada ao longo do ano lectivo.

Provavelmente o que eu escrevi são banalidades; provavelmente haverá outras questões muito mais pertinentes, mas como eu referi, isto é apenas um desabafo de uma pessoa simples que adora o que faz e que gostava de ver a profissão dignificada e não enxovalhada como tem acontecido sucessivamente nos últimos anos. Apesar de tudo, desejo um bom início de ano lectivo para todos os professores!

15 setembro, 2006

 

Marcha dos desalinhados

Teve início em Havana, a 14ª reunião da cúpula dos Países Não-Alinhados. Esta organização reúne apenas países subdesenvolvidos ou emergentes e, perdeu bastante influência internacional após o final da Guerra Fria. Desta feita, as grandes estrelas da cimeira são o irrequieto Hugo Chávez da Venezuela e Mahmoud Ahmadinejad do Irão que pretende reunir apoios para o desenvolvimento do programa nuclear no seu país.
De resto, estes estados estabeleceram por comum acordo, o combate ao imperialismo que traduzindo se revela numa oposição frontal à hegemonia dos EUA no cenário mundial. Na minha opinião, creio que a realização desta reunião em Havana teve apenas como objectivo proporcionar um pouco de sol e noites de cabaret a estes líderes do Terceiro Mundo, que certamente não abandonarão Cuba sem fazer a sua vénia a Fidel castro que ainda se encontra meio combalido.
A ordem mundial vai-se alterando e os pequenos países também já querem mostrar as suas garras afiadas.

 

Feira da Luz

Sempre nutri uma enorme simpatia por feiras e festas populares em geral. Acredito que este tipo de eventos faz parte do nosso imaginário colectivo e, como tal, devem ser fortemente preservados. Hoje, gostaria de vos propor uma visita à Feira da Luz, que será um dos últimos resquícios de uma Lisboa rural, da época em que as quintas que abasteciam os mercados da capital ainda se situavam nas zonas do Lumiar, Carnide e Benfica. Guardo gratas recordações desta feira porque os meus avós maternos moravam nas proximidades e era obrigatória uma visita, todos os anos no mês de Setembro. Façam um programa diferente e não percam até final de Setembro, no Largo da Luz, bem perto do C.C. Colombo.
Não abusem das farturas!

 

Com amigos destes...


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi novamente surpreendido por uma decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, desta vez confiscando as instalações e o fluxo de caixa das refinarias da Petrobras boliviana. Em Maio ele já surpreendera o governo brasileiro ao nacionalizar as reservas de gás de seu país e colocar tropas do exército na porta da refinaria. Agora, ao tomar as refinarias, Evo rompeu uma espécie de acordo pré-eleitoral que havia feito com Lula.

Na realidade, estas medidas afectarão muito pouco a Petrobras já que apenas 3% da sua produção de petróleo provém da Bolívia, embora na área de abastecimento de gás natural as coisas se possam complicar um pouco mais.
O que importa salientar é, que uma vez mais Lula da Silva coloca os interesses partidários e ideológicos acima dos interesses nacionais. O presidente da Bolívia, Evo Morales, é um antigo companheiro de Lula nas lutas de esquerda na Amércia Latina, o que levou o Governo brasileiro a pensar que teria um estatuto previligiado e que os seus interesses nesse país nunca seriam ameaçados.

Contudo, é evidente o embaraço de Lula da Silva quando tem que prestar esclarecimentos à população sobre a situação que se desenrola no país vizinho, optando por uma passividade impressionante quando está em causa o abastecimento energético de indústrias vitais para o Brasil que empregam milhares de pessoas.
Por outro lado, também me impressiona a capacidade que alguns Governos têm em dar tiros no seu próprio pé. A Bolívia é um país pobre e altamente dependente do investimento estrangeiro para gerar riqueza. Ora, se o Governo boliviano toma posições destas face a países que alinham pelo mesmo diapasão ideológico, o que se poderá esperar em relação a investidores de outros países? É espantoso, o esforço que a esquerda sul-americana faz para afundar o seu próprio continente...

 

Cartas Credenciais


5 Embaixadores residentes e 8 não residentes apresentaram hoje em Lisboa as suas Cartas Credenciais ao Presidente da República. Este acto marca o início de uma nova etapa para estes homens, neste momento são de facto Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários, ou seja têm plenas capacidades ante o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros para promoverem acordos bilateriais que impulsionem as relações entre ambos países.
Dos Embaixadores residentes apresentaram Cartas Credenciais:
Sua Excelência, Senhor Joachim Broudré-Groger, Embaixador da Alemanha;
Sua Excelência, Senhor Luke Williams, Embaixador da Autrália;
Sua Excelência, Senhor Gao Kexiang, Embaixador da China;
Sua Excelência, Senhor Peter Andrej Bekes, Embaixador da Eslovénia;
Sua Excelência, Senhor Mart Tarmak, Embaixador da Estónia.
Ressalto a importância deste grupo de embaixadores para Portugal. Como todos sabem, a Alemanha antecede Portugal na Presidência da União Europeia, e a Eslovénia sucede Portugal na Presidência, veremos que propostas trazem cada um e que seguimento se dará às questões europeias de importância vital para Portugal. Também o Embaixador da China terá o seu papel a desempenhar nos próximos tempos já que o Eng.º José Sócrates, há dias em Helsinquia afirmou que queria que durante a Presidência da UE de Portugal se desse mais uma ronda de negociações com esse colosso que é a China.
As Cartas Credenciais estão entregues, resta saber o que se segue no âmbito destas relações diplomáticas.
*Na foto Senhor Peter Andrej Bekes, novo embaixador da Eslovénia ante Portugal

14 setembro, 2006

 

Cuéntame cómo pasó

Não pretendo com este post abordar o estado a que chegou a televisão portuguesa. Para isso pagam ao Eduardo Cintra Torres e a outros que tais. Gostaria antes de abordar um epi-fenómeno televisivo (bom, cultural, porque não se restringe apenas a esse universo): o da importação de formatos e subsequente adaptação ao universo de chegada.

Não é um fenómeno novo, vários programas de entretenimento, ao longo da história televisiva, eram formatos comprados que foram mais tarde adaptados ao contexto português. Uma espécie de “franchising” televisivo. Não pretendo fazer uma diatribe anti-televisiva de cariz pseudo-intelectual, até porque, se pensarmos bem, o teatro também está a recorrer frequentemente a este expediente (“Monólogos da Vagina”, “O Método Grohnolm”, etc...). Talvez porque as televisões, com todo o capital inerente ao seu funcionamento, tenham medo de falhar, elas apostam em formatos que já provaram o seu sucesso, ainda que noutro país. E recentemente algumas apostas foram ganhas e bem ganhas, como nos casos dos famigerados “Big Brother” e da sumamente irritante e marxista “Floribela”, só para citar os casos mais óbvios.

Morando em Espanha pude assistir ao original de duas séries que mais tarde forma adaptadas ao contexto luso: “Aquí no hay quien viva” e “Camera Café” (este último não sei se o original é de facto espanhol, mas estreou primeiro aqui). E se por um lado o segundo programa é uma espécie de grande-chavão que poderá resultar em qualquer país (até porque se baseia num "não-lugar”, uma câmara fixa numa máquina de café numa qualquer empresa), o primeiro deles, esse genuinamente espanhol, dificilmente poderia transformar-se num êxito de share. Por diversas razões: a realidade urbana espanhola não é exactamente igual à portuguesa, distando até por vezes de sobremaneira (“a ver”, quantos prédios em cidades portuguesas têm porteiro?, uma das personagens principais, se não mesmo a principal da série; quantos prédios têm pátio interior?, espaço cénico onde decorre grande parte da acção; com que frequência habitam os nossos prédios casais de “gays” e de lésbicas com relações assumidas?; com que facilidade solta o português interjeições equivalentes às esperpênticas “joder!”, “no jodas!”, “me cago en la hostia!”, “de puta madre!”? isto para não ofender os mais católicos...). Por muito boa que fosse a produção, a realização, a direcção de actores, a mise-en-scène e o argumento, algo falharia pela base. Parece que foi mais ou menos isso o que sucedeu (com muita pena minha, já que uma antiga aluna minha, a minha querida Belén Granados, está directamente envolvida na adaptação desta série).

Por outro lado, há uma série que passa na TVE há já alguns anos que poderia ser adaptada (no verdadeiro e Histórico sentido da palavra) à nossa realidade. Chama-se Cuéntame cómo pasó e é basicamente a saga de uma família de classe média-baixa (os Alcántara), que vivendo num bairro proletário da capital espanhola (o imaginário San Genaro, que se situaria algures, para quem conhece Madrid, na zona de Aluche/Carabanchel), atravessam os anos de 40 até 1989. Este é basicamente o período que medeia o fim da sangrenta guerra civil espanhola (1936-39) e a entrada de Espanha na CEE e posterior início da bonança económica. A parte de leão da narrativa cabe assim à ditadura franquista (que termina em 75). É, pois, uma óbvia tentativa de fazer uma catarse da história. A série não fala de políticos (eles são mencionados, claro está!), mas o centro da trama é, como já disse, uma modesta família, com os seus problemas quotidianos, e com a sua vivência num país que vivia, “mientras tanto” uma ditadura totalitária.

O “trabalho de sapa” é de um bom gosto inexcedível: houve toda uma preocupação de reconstruir cenicamente as 5 décadas retratadas pela obra. Nos décors, nos penteados, no guarda-roupa, no product placement... até na própria linguagem! A narrativa vai avançando e quem lhe dá o mote é a própria história: lembro-me do assassinato, cometido pela ETA, do então presidente do governo, Carrero Blanco em Dezembro de 1973, ou da própria revolução portuguesa de Abril de 1974, retratada no episódio que ontem, dia 14 de Setembro, foi emitido (um dos filhos do casal, Antonio, é jornalista –e activo militante comunista-, e é enviado a Lisboa para cobrir os acontecimentos. Em Portugal conhece uma fotógrafa freelancer chamada Carmen (haverá nome feminino mais espanhol?), nada mais, nada menos que a nossa Maria de Medeiros, que cede também excertos do seu filme “Capitães de Abril”, que juntamente com imagens da época dão algum grau de fidedignidade ao episódio).

Os actores são, em grande medida, muito bons, e destacaria os que dão o corpo ao pai de família Antonio Alcántara (o excelente Imanol Arias) e à mãe e amantíssima esposa Mercedes, interpretada pela espantosa (no sentido português da palavra) e deslumbrante Ana Duato.

Está claro que o espanhol é um povo mais atreito a fazer a sua catarse, ainda que seja a berros, ainda que seja a murro (aí está o flamenco que grita, onde o fado cala). Por natureza, “nuestro hermano” é impositivo, diz a sua opinião, por mais dispar que seja, sem pestanejar. E isto depressa. E isto alto (aí está o castelhano que abre as vogais, onde o portugês as fecha). Como causa disto, ou como consequência, tiveram a guerra civil (onde nós tivemos o inerte salazarismo). Como causa disto, ou como consequência tiveram uma transição democrática (onde nós tivemos um PREC). O espanhol gosta de chegar a termos com os vivos (um professor de História Contemporânea Portuguesa da FLUL, proibiu-me de fazer um trabalho sobre a influência d´ “O Independente” durante o cavaquismo porque e passo a citá-lo “Em Portugal, a historiografia não se faz com as pessoas vivas”...), de fazer as suas contas com a história (há pouco mais de um ano, Santiago Carrillo, antigo líder do PCE e provável responsável pelo fusilamento de entre 2396 a 5000 pessoas em Paracuellos de Jarama e Henares, foi confrontado publicamente com estas acusações num acto público, chegando mesmo a ser supostamente agredido. Nós deixámos morrer Álvaro Cunhal, sem nunca o confrontar com as suas decisões e vamos deixar morrer Otelo (e demais copconner´s, e demais FdP-25) sem os julgar enquanto eles forem vivos).

Por que não se pega nesta ideia, neste formato e não se tenta aplicá-lo em Portugal? Com um trabalho sério de tratamento de época (temos meios para o fazer, vide “Os Imortais” de António-Pedro Vasconcellos), com bons actores (que os temos), com bons guiões e punchlines (a ver se deixamos de uma vez por todas para trás o típico humor de caserna, mescla de lupanar do Martim Moniz com revista do Parque Mayer). Mas sobretudo, com um bom apoio histórico por trás, recorrendo aos bons historiadores contemporâneos (João Medina, José Manuel Tengarrinha, Pacheco Pereira, Costa Pinto, Rui Ramos, Maria Fátima Bonifácio, Vasco Pulido Valente, António Ventura, Ernesto Castro Leal...) que dêem à série um enquadramento fidedigno.

A ver se fazemos, de uma vez por todas, as pazes com a nossa história. As pazes com os nossos mortos. As pazes connosco mesmo.

 

O povo unido...

É com denodado orgulho que aqui se anuncia que este blog se uniu aos Blogs Coligados. O nosso parceiro é, como o nome aliás indica, uma "joint venture" de vários bloggers brasileiros e portugueses cuja máxima é
"O pensamento diferente, apresentado de uma forma diferente".

Aqui fica, desde já, à laia de declaração de intenções um texto do nosso "camarada" Hélio Rodrigues Pereira

Versões, Fatos e Mentiras

por Hélio Rodrigues Pereira

As grandes revoluções dramáticas do passado são entendidas pelo senso comum como fenômenos claramente reconhecíveis, precedidos por ampla divulgação que anuncia a todos a verdadeira natureza dos acontecimentos.
A leitura superficial fornecida pelos livros de história incute-nos esta impressão, de que a ascensão do nazismo e a revolução cubana, entre outras coisas, já nasceram devidamente identificadas, sugerindo que tais propósitos fossem didaticamente explicados pelos seus líderes nos meios de comunicação.
A verdade é que Hitler não avisou aos alemães que iria fazer a guerra ou exterminar os judeus em seus discursos de campanha, e Castro muito menos avisou publicamente que possuía ideais comunistas. Ambos agiram de maneira dúbia, procurando amenizar os anseios das expectativas públicas que buscavam em suas palavras os esperados sinais de moderação...

 
Pedro Ayres Magalhães I

Hoje presto homenagem ao meu único ídolo. Pedro Ayres Magalhães, guitarrista e mentor dos Madredeus, onde se esforçou por traduzir musicalmente a alma portuguesa. O cruzamento perfeito da linguagem pop com o fado tradicional faz sucesso nos quatro cantos do globo.
Os Portugueses têm sentido alguma dificuldade em decidor como reagir a isto. Mas essa hesitação tem também a ver com uma inédita inversão dos termos, uma situação nova. Os navegadores de outros tempos tinham por missão regressar, e dislumbrar com riquezas desconhecidas,e, ao invés, estes navegantes partiram levando consigo o tesouro que ninguém conseguira avaliar com precisão.
Neste vídeo antigo, podemos apreciar a evocação de uma Lisboa antiga sempre presente no imaginário dos Madredeus.

 
Pedro Ayres Magalhães II

Recordação saudosa dos Heróis do Mar, banda dos anos 80 que também era liderada por Pedro Ayres Magalhães. O grupo que procurava reinventar e representar sob uma forma contemporânea a mitologia nacionalista tradicional. No início da sua carreira apresentavam-se em palco com uma indumentária estilizada que evocava os trajes militares do século XV e empunhando reproduções das antigas bandeiras medievais portuguesas, a a banda procurava devolver à sua geração o ideal de uma pátria de heróis, mais aventureiros do que santos e permanentemte atraídos pelo amor e pela miragem de terras distantes.
Ambas as bandas, são presença constante das emissões da Rádio do Forte que podem escutar neste blog.

12 setembro, 2006

 

Euromilhões


Dentro de poucas horas, terá início mais uma Liga dos Campeões que reunirá os melhores astros do futebol mundial. Pela primeira vez, teremos três clubes portugueses à procura de um lugar ao sol no seio das principais equipas europeias.
Faço votos que todos eles realizem uma boa campanha à semelhança do SL Benfica da época passada, que obteve um desempenho notável. Contudo, parece que o meu Sporting terá pela frente uma tarefa mais complicada, já que lhe foram destinados pela sorte alguns colossos do futebol europeu.
Seja como for, será uma excelente ocasião para os amantes do desporto-rei disfrutarem de excelentes embates desportivos, já que o campeonato nacional teve início envolto em polémicas.
Boa sorte bravos lusitanos nestas noites europeias!

11 setembro, 2006

 

Sugestão literária

Acabei esta semana de ler o ensaio biográfico de Vasco Pulido Valente acerca de Paiva Couceiro. O livro chama-se precisamente Um Herói Português - Henrique Paiva Couceiro (1861-1944) é da Alêtheia e foi publicado em Junho do presente ano.

Paiva Couceiro foi um brilhante militar, cuja notabilização castrense se deveu, em grande medida às suas incursões primeiro em Moçambique e depois em Angola. O livro perspassa os grandes momentos da queda do Império Português: O "Mapa Cor-de-Rosa", o consequente "Ultimato" (sic) Inglês, a Conferência de Berlim, o Regicídio e a subsquente implantação da república. Couceiro sentiu todo este período como se fosse o seu próprio dealbar. Sendo a sua mãe inglesa, sentiu a humilhação provocada pelo "ultimato" (sic) inglês como uma humilhação sua (como forma de protesto retirou do seu nome o apelido da sua mãe, Mitchell); sendo monárquico, o golpe de estado que impôs a república veio despertar uma via revolucionária que, aliada à experiência militar de Couceiro o levou a várias tentativas de restauração da Monarquia e mesmo à implantação da efémera Monarquia do Norte.

Pela pena sempre acutilante, mas certeira de Pulido Valente vemos desfiar o perfil de um Homem de outros tempos. Couceiro era um Homem que amava a sua Pátria e tudo fez em vida para que ela recuperasse o esplendor que havia tido outrora. No fundo, Couceiro parece ter sido sempre um lutador de causas perdidas, o que se juntarmos a uma certa irresponsabilidade/heroicidade da personagem e à mais que óbvia incomodidade política da mesma nos dá para compreender o porquê do seu desaparecimento das lições de história contemporânea.

Se Paiva Couceiro tivesse a seu lado mais cem homens como ele Portugal não teria acabado em 1910!

 

Fahrenheit 9/11


No dia 11 de Setembro de 2001, a população norte-americana vê o seu orgulho patriótico fortemente abalado pelos ataques terroristas ocorridos em Nova Iorque. Este terrível episódio, veio marcar uma viragem na actual ordem mundial com repercussões profundas na vida das sociedades modernas. A economia mundial retraiu-se, surge a cultura do medo e a noção de privacidade adquire novos contornos.
A Europa acossada pelo medo, uniu-se aos EUA numa cruzada contra o terrorismo islâmico, dando origem a uma espécie de guerra colonial dos tempos modernos. Todo o século XX foi marcante por uma forte hegemonia americana no cenário mundial e, pela primeira vez surge um grande obstáculo à permanência desse status quo.
Estão decorridos cinco anos e o mundo ocidental não conseguiu travar a ameaça terrorista que se esconde nas sombras, infiltrando-se secretamente nos países ocidentais espalhando horror e destruição.

Esta semana, apresentamos no Condado um filme polémico. Farenheit 9/11 da autoria de Michael Moore é um filme documental que faz uma oposição frontal à política de George W.Bush e seu Partido Republicano, com muitas críticas aos conflitos armados que sucederam ao 11 de Setembro. No entanto, trata-se de um documento que perde bastante credibilidade porque a manipulação de imagens e o populismo são por demais evidentes.
È óbvio que algumas acusações poderão até ser válidas, mas não podemos acreditar que a actual classe dirigente dos EUA, seja constituída unicamente por políticos estúpidos e ignorantes que não sabem captar as mudanças em curso, como se quer fazer crer no filme. Moore, pelo seu estilo exagerado e demagógico acaba por se tornar uma figura caricatural que representa de modo primário, os interesses democratas sempre presentes na indústria do cinema norte-americano. Os momentos mais válidos deste filme, acabam por ser aqueles em que fica documentada a ignorância e falta de carisma de George W.Bush, o que também já não será novidade para ninguém.
De qualquer modo, este é um filme obrigatório, sintomático do mundo pós-11 de Setembro e que convém rever neste período em que as eleições norte-americanas se avizinham.
Não somos pró-americanos convictos e muito menos apologistas da guerra, mas em caso de dúvida, iremos sempre optar pelos valores ocidentais sob os quais fomos educados. E não se deixem iludir pela intelectualidade políticamente correcta que transformou Michael Moore no seu líder espiritual.

Título Original: Farenheit 9/11
País de Origem: EUA (2004)
Realização: Michael Moore

 

“Meanwhile in Gotham City...”


O líder iraniano, Mahmoud Ahmadineyad, deu há poucos dias, quando no seu país se celebrava o Dia da Juventude, mais provas do seu célebre ecumenismo e tolerância para com o forâneo. Numa reunião que celebrou com um selecto grupo de estudantes universitários Ahmadineyad pediu para que estes denunciassem os professores laicos que não dessem boas notas aos que não pensassem como eles (as palavras são as que aparecem transcritas no diário ABC e atribuídas ao líder iraniano). Segundo Ahmadineyad, o Estado deverá repudiar o pensamento e a economia liberal. Para tal, o governo iraniano já começou a tomar algumas medias, medidas essas ainda insuficientes porque, nas palavras do próprio Ahmadineyad, o sistema iraniano “arrasta os defeitos de 150 anos de secularismo”.
Além disso, o líder iraniano advertiu os estudantes para os perigos das conferências no estrangeiro, que só serviriam para contaminar os universitários com as nefastas ideias ocidentais. Todavia, nos quinze meses que leva o governo de Ahmadineyad, foram retiradas as licenças a dezenas de professores e 40 foram reformados antecipadamente por causa das suas “simpatias” reformistas. Pela primeira vez um clérigo foi nomeado como máximo responsável da universidade mais importante do país. Entretanto, o movimento estudantil permanece anulado. Segundo o FMI, cada ano 150 mil estudantes saem do país para fugir do desemprego e dos salários baixos que Teerão tem para lhes oferecer.
Os reformistas queixam-se das complicações progressivas que existem hoje em dia para editar um livro e afirmam que há centenas que estão à espera da respectiva licença de edição e outros aos quais falta a licença de distribuição.

Ao que parece o revivalismo da revolução islâmica de 79 continua...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?