08 setembro, 2006

 

Tão democráticos que eles são…

A América Latina continua em grandes convulsões políticas. Ali temos assistido, nos últimos tempos, ao ressurgir de uma certa esquerda que se pensava estar já morta e enterrada. Tutelada pelo magistério de Fidel Castro, vimos alçar-se ao poder pessoas como Hugo Chávez na Venezuela, Lula da Silva no Brasil, Tabaré Vásquez no Uruguai, Evo Morales na Bolívia e Michelle Bachelet no Chile. Goradas foram as vitórias eleitorais de Ollanta Humala no Perú e agora de López Obrador no México.

As peripécias que rodeiam as eleições mexicanas do passado dia 2 de Julho bem revelam o déficit democrático que esta esquerda possui. O que se passou foi que as eleições presidenciais foram bastante renhidas entre aquele candidato da área da esquerda e o conservador Felipe Calderón, advogado que estudou em Harvard e pertence ao Partido da Acção Nacional (PAN), partido de programa humanista e que está próximo do empresariado. A diferença que separa os dois candidatos foi apenas de 233.831 votos (O, 56% do total). Imediatamente após o escrutínio, López Obrador, que liderava a coligação Por El Bien de Todos alegou irregularidades no acto eleitoral e apelou ao Tribunal Eleitoral mexicano para que este procedesse a uma recontagem dos votos.

Dia 16 de Julho (duas semanas após as eleições) López Obrador denuncia as irregularidades e convoca um comício que reuniu cerca de um milhão de afectos à sua candidatura, com o objectivo de formar uma campanha de “resistência civil para defender a democracia”. A 30 do mesmo mês o candidato derrotado declara-se em “assembleia permanente” e os seus apoiantes formam meia centena de acampamentos no Zócalo (a praça central da Cidade do México) e ao longo de 8 quilómetros do Paseo de la Reforma, provocando deste modo o caos na capital.
A 14 de Agosto a polícia desaloja à bastonada e usando gás lacrimogéneo os legisladores que apoiavam López Obrador de um dos acessos à Câmara de Deputados. No dia 1 de Setembro, Vicente Fox, o presidente cessante, renuncia à apresentação do último relatório de governo, depois de dezenas de deputados e senadores do partido de Obrador tomarem de assalto a câmara.
Dois dias mais tarde, Obrador apela a que o exército não participe em actos de repressão contra o movimento civil presidido por si próprio. Nesse mesmo dia começa uma convenção que visa a auto-proclamação de López Obrador como “presidente legítimo”.
No dia 5 deste mês o Tribunal Eleitoral declarou por unanimidade Felipe Calderón como presidente eleito, contra as acusações de fraude e a petição levada a cabo pelos comícios de López Obrador que visava invalidar esta eleição. Dizem os analistas que Obrador avançou para estas eleições confiando nas sondagens que o davam como virtual vencedor. O que aconteceu foi que Calderón conseguiu fazer uma espantosa recuperação, acabando por derrotar o candidato favorito. Isto numa campanha muito agressiva e violenta, a que o México não estava habituado, dirigida essencialmente contra os empresários e rivais políticos de López Obrador.

No dia 6 o candidato derrotado fez saber que se negava a acatar a resolução do Tribunal que ele mesmo havia solicitado e disse não reconhecer a eleição de Felipe Calderón enquanto presidente legítimo. O que é curioso é que, há meses atrás, Obrador afirmou que admitia a independência do Tribunal Eleitoral e que respeitaria as suas decisões.
Obrador, num comício do mesmo dia 6 diz querer “refundar a República” e “restabelecer a ordem constitucional”, e instou a que “muitos mexicanos [devessem] reassumir o exercício da soberania popular e abolir de uma vez e para sempre o regime de corrupção e privilégios que impera no nosso país". Obrador convocou para o próximo dia 16 deste mês uma assembleia na mesma praça do Zócalo uma “Convenção Nacional Democrática” para constituir “um Governo que conte com a legitimidade necessária para refundar a República e restabelecer a ordem constitucional”. Da mesma forma, Obrador proibiu o PRD, o seu partido originário e segunda força mais votada do país, de levar a cabo negociações com os restantes partidos para garantir o normal transcurso político do México.

Assim se prova que, para algumas pessoas, a democracia só é democrática quando somos nós a mandar...

Comments:
Exmo. Conde de Piornos,
é com muita honra e inclusive algum orgulho que hoje me dirijo a si e finalmente ganho coragem para comentar um dos seus sempre inteligentes escritos.
Lavras como a sua enriquecem a blogosfera e fazem-me continuar a acreditar que há pessoas que ainda se importam que tudo vá mal.
Quanto ao seu comentário sobre o México tenho a acrescentar que muito do poder de massas que Obrador parece ter resulta da incapacidade e falta de formação do povo que o acompanha. parece-me inacreditável que se continue a dar atenção internacional ao candidato amuado.
Desta que o quer tanto, receba um caloroso abraço.
 
Cara Rosa,

Uma pessoa fica até sem jeito depois de tanto elogio. Deixe-me que lhe diga que é uma pena que se retraia e que não comente os textos aqui expostos. O que aqui dizemos não pretende ser uma verdade universal, se assim fosse não teríamos um blog, formaríamos uma seita. E se discordar, melhor! Receber uma pancadinha no ombro é bom, mas levar um soco no estômago (discursivamente falando, está claro!) é bem melhor!

Não se esqueça de ir dando notícias suas, que é para isso que isto serve!

Caloroso abraço para si também.
 
Sempre foi assim... a democracia é pregada por quem precisa de tudo menos dela...infelizmente claro...

é muito interessante tomar conhecimento destes casos, que muitas vezes nos são ocultados e nunca aparecem desta forma critica.

Cumprimentos!!!
 
Exmo. Sr. Conde

Política...democracia...
desculpe mas não gosto de comentar sobre política.

Votos de bom fim de semana.
Um abraço.
 
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