21 setembro, 2006
A Persistência da Memória
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, convidou o vereador comunista Ruben de Carvalho, habitual responsável máximo pela organização anual da festa Avante!, para coordenar as acções que a edilidade desenvolverá de forma a manter viva a memória da repressão do Estado Novo. O vereador não deixou margem para grandes dúvidas e polémicas: "Não vou ter um papel executivo, nem vou ser remunerado", tendo sido estas as condições por si colocadas para aceitar o convite camarário. O seu papel, como aliás fez questão de deixar claro será o de “articular as propostas existentes e dar uma visão de conjunto às iniciativas que envolvam a autarquia". Recordamos que Ruben de Carvalho é um dos subscritores do movimento cívico Não Apaguem a Memória! e que, durante o regime salazarista, foi preso nove vezes, tendo conhecido as prisões do Aljube e de Caxias, bem como a sede da PIDE na rua António Maria Cardoso.
Ao que parece estas iniciativas passarão essencialmente por tornar a cisterna que existe na citada rua do Chiado num museu e criar um roteiro evocativo da repressão salazarista. Até aqui nada a obstar. Mas desde logo ressaltam algumas curiosidades. Relata a notícia do Público que Ruben de Carvalho terá colocado esta questão ao PCP (como bom comunista obediente que é, até para não o começarem a apagar das fotos e depois aparecer aí num pinhal de Belas, ou coisa que o valha...) antes de ter aceite o convite. Excusado será dizer que o PCP concordou com esta iniciativa (arriscaria a dizer que algures na Soeiro Pereira Gomes haverá muito boa gente a esfregar as comunas mãos...). É agradável observar que as pessoas ainda não se fartaram de ver a história contemporânea de Portugal escrita e reescrita pelo “esquerdalho”, com a mesma mitificação das mesmas personagens (maxime o Velho dos Olivais) e a diabolização dos outros todos (desde o "trotskista" Júlio Fogaça ao "nazi" do Salazar). Enfim, os portugueses cada vez mais me parecem umas crianças perpétuas, daquelas que gostam de ouvir repetidamente a mesma história, e que quando o narrador, farto da monotonia, decide mudar uma vírgula ou pôr em causa a castidade da princesa encantada, desatam logo num choroso berreiro a vilipendiar o revisionista “crooner”. Resta-nos uma consolação: um museu criado e dirigido pelo PCP estará condenado a ser um sítio entregue às moscas. Para ouvir a história do costume sai mais barato comprar o Avante!
Outro dos pontos que despertam interesse é que Ruben de Carvalho compromete-se até Janeiro do próximo ano a ter pronto um relatório sobre essas mesmas iniciativas que servirão também como “contributo para a comemoração do centenário da instauração da república, que se celebra em 2010”.
Bem, alguém se me importará de explicar o que é que o cu (leia-se o 5 de Outubro) tem a ver com as calças (leia-se a repressão do Estado Novo)? Estará o PCP a querer dizer que a Monarquia CONSTITUCIONAL prévia a 1910 é comparável ao Estado Novo? Estará o PCP a afirmar que o regime monárquico era também repressivo e que essa repressão terá exactamente terminado com a chegada dos acólitos de Afonso Costa? Estará o PCP, inadvertidamente suponho, a esquecer-se da Formiga Branca e da Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921? Ou o PCP está apenas a fazer uma espécie de suma teológica com todas as suas datas festivas. Se assim for vamos todos celebrar também a revolução de Outubro ou a comuna de Paris ou o nascimento de Estaline (celebrarão eles o aniversário da sua morte?)?
Citando livremente o antigo PGR, Cunha Rodrigues: “Os portugueses têm a história e a memória que merecem”.
Ao que parece estas iniciativas passarão essencialmente por tornar a cisterna que existe na citada rua do Chiado num museu e criar um roteiro evocativo da repressão salazarista. Até aqui nada a obstar. Mas desde logo ressaltam algumas curiosidades. Relata a notícia do Público que Ruben de Carvalho terá colocado esta questão ao PCP (como bom comunista obediente que é, até para não o começarem a apagar das fotos e depois aparecer aí num pinhal de Belas, ou coisa que o valha...) antes de ter aceite o convite. Excusado será dizer que o PCP concordou com esta iniciativa (arriscaria a dizer que algures na Soeiro Pereira Gomes haverá muito boa gente a esfregar as comunas mãos...). É agradável observar que as pessoas ainda não se fartaram de ver a história contemporânea de Portugal escrita e reescrita pelo “esquerdalho”, com a mesma mitificação das mesmas personagens (maxime o Velho dos Olivais) e a diabolização dos outros todos (desde o "trotskista" Júlio Fogaça ao "nazi" do Salazar). Enfim, os portugueses cada vez mais me parecem umas crianças perpétuas, daquelas que gostam de ouvir repetidamente a mesma história, e que quando o narrador, farto da monotonia, decide mudar uma vírgula ou pôr em causa a castidade da princesa encantada, desatam logo num choroso berreiro a vilipendiar o revisionista “crooner”. Resta-nos uma consolação: um museu criado e dirigido pelo PCP estará condenado a ser um sítio entregue às moscas. Para ouvir a história do costume sai mais barato comprar o Avante!
Outro dos pontos que despertam interesse é que Ruben de Carvalho compromete-se até Janeiro do próximo ano a ter pronto um relatório sobre essas mesmas iniciativas que servirão também como “contributo para a comemoração do centenário da instauração da república, que se celebra em 2010”.
Bem, alguém se me importará de explicar o que é que o cu (leia-se o 5 de Outubro) tem a ver com as calças (leia-se a repressão do Estado Novo)? Estará o PCP a querer dizer que a Monarquia CONSTITUCIONAL prévia a 1910 é comparável ao Estado Novo? Estará o PCP a afirmar que o regime monárquico era também repressivo e que essa repressão terá exactamente terminado com a chegada dos acólitos de Afonso Costa? Estará o PCP, inadvertidamente suponho, a esquecer-se da Formiga Branca e da Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921? Ou o PCP está apenas a fazer uma espécie de suma teológica com todas as suas datas festivas. Se assim for vamos todos celebrar também a revolução de Outubro ou a comuna de Paris ou o nascimento de Estaline (celebrarão eles o aniversário da sua morte?)?
Citando livremente o antigo PGR, Cunha Rodrigues: “Os portugueses têm a história e a memória que merecem”.
Comments:
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Parabéns. Vocês têm dos melhores blogues de direita da actualidade, sem cair em extremismos imbecis.
Leio diariamente...
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Meu Caro Conde:
é a cartilha da marcha dialéctica da História em direcção ao abstracto Progresso quem mais ordena. Mesmo que algumas das muitas vítimas da República e mortais, ao contrário da generalidade "das" do Estado Novo, tenham sido sindicalistas revolucionários.
Abraço.
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é a cartilha da marcha dialéctica da História em direcção ao abstracto Progresso quem mais ordena. Mesmo que algumas das muitas vítimas da República e mortais, ao contrário da generalidade "das" do Estado Novo, tenham sido sindicalistas revolucionários.
Abraço.
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