20 setembro, 2006

 

O Valente Valentim

Uma amiga fez-me chegar às mãos um artigo do 24 Horas onde consta o "curriculum" do Major Valentim Loureiro, célebre passarão da nossa praça. É de salientar que o ex-presidente do Boavista é tradicionalmente visto como um "autarca-modelo", epiteto que em Portugal podemos encontrar atribuído a outros edis dos 4 grandes partidos portugueses, como Isaltino Morais, Ministro dos Santos, José Raul dos Santos do PSD, Narciso Miranda, Fernando Gomes, José Luis Judas, Edite Estrela e Fátima Felgueiras do PS, Avelino Ferreira Torres e Daniel Campelo do CDS e Maria Emília do PCP.

Aqui fica pois a cronologia mediática do homem que mais recentemente se viu "embrulhado" nos casos "Apito Dourado" e "Mateus", ou consequente "Liga Caos":

- Em 1958, com apenas 20 anos (de pequenino...), é acusado de falsificar a assinatura de um colega na Escola do Exército para poder receber o seu ordenado. É expulso da escola (e vai uma...).

- Em 1965, é nomeado para comandar do Depósito Avançado de Víveres nº 823 em São Salvador, em Angola. Adjudica o fornecimento de batatas a um comerciante, de nome Manuel Marques Cabral pelo preço de 4$00 o quilo, quando na verdade o seu preço real era 3$50. Os 50 centavos restantes eram divididos da seguinte forma: 35 para o nosso Valentim e os restantes 15 para um outro oficial. Com este esquema Valentim Loureiro, na altura capitão, açambarca 258.505$85, o que equivaleria hoje a 15 mil contos. É expulso também do exército (e vão duas...). Em 1980 é reintegrado e promovido a major (terá sido por incentivos prestados ao incentivo do cultivo da batata?), passando automaticamente à reserva (vide tema das "alegres" reformas).

- Em 1973 é multado pelo Banco de Portugal por emprestar dinheiro aos seus clientes das lojas de electrodomésticos (ah! os electrodomésticos... a ante-câmara da sua "morceau de bravure" na política autárquica...) para que estes jogassem na Bolsa.

- Dois anos mais tarde é implicado no MDLP como financiador do movimento (sempre em boas companhias). Segundo Manuel Macedo (lembram-se da Associação Amizade Portugal-Indonésia? Antes da independência de Timor-Leste e da qual era membro outro militante do CDS tal como Macedo, Pedro Feist...), outro "transparente" empresário da região Norte e também ele ligado ao MDLP, o major terá aproveitado as ligações com esse movimento para fazer alguns negócios, tendo ficado com o dinheiro de um livro que ia ser editado pela igreja de Braga (a esta história só faltava pois o Cónego Melo) e, segundo a mesma fonte, estaria implicado na morte do empresário Ferreira Torres (também ele do Norte, também ligado ao MDLP, igualmente "transparente" -por Deus! era irmão de Avelino Ferreira Torres...-) .

- Em 1980 é condenado pelo Tribunal de Pombal a pena de prisão, posteriormente substituída por multa, por injuriar um elemento da GNR.

- Em 1990 envolve-se num incidente com guardas da antiga 6ª divisão do Porto, chegando a ser detido e posteriormente expulso (e vão três...) em circunstâncias todavia ainda não totalmente esclarecidas (como tudo na vida do nosso major).

- No ano seguinte deposita num balcão do BCP um cheque de 33 mil contos de um banco da Costa Rica (?). O cheque acabaria por ser "careca" e o caso vai a tribunal. O major é ilibado por ter sido vítima de fraude (o pobre...).

- Em 1995 é acusado por um polícia presente num jogo do Boavista porque, supostamente, o major lhe terá chamado "analfabeto" por "não ter conhecido o major que até o Presidente da república conhecia".

- Em 1999 terá insultado vários agentes da autoridade na Rua de Fez com o seguinte naco de prosa: "Vocês são uma merda. A Polícia precisa de um comandante que vos ponha na ordem. Ainda bem que vai haver polícia camarária."

- Três anos mais tarde terá reincidido no crime, tendo insultado um polícia que procedia à identificação da esposa do major por esta ter estacionado o carro em cima do passeio e no enfiamento de uma passadeira (sendo mulher, e ainda por cima esposa do major, que melhor sítio para estacionar?). Valentim recusa depois identificar-se, alegando que o polícia o conhecia muito bem (será que já lhe tinha dado alguma varinha mágica?).

Do citado artigo constam igualmente os seus cargos:

- Presidente da CM de Gondomar;
- Presidente da LPF;
- Presidente da Junta Metropolitana do Porto;
- Vice-Presidente do Congresso Nacional do PSD;
- Presidente do Conselho Administrativo do Metro, SA;
- Membro do Conselho Geral da Associação Nacional de Municípios Portugueses;
- Presidente honorário do Boavista;
- Membro do Conselho Geral do Boavista;
- Presidente da Mesa da Assembleia do PSD da Secção de Gondomar.

E constam também as suas posses:

- a "Fábrica do Ferro", companhia de Fiacção de Tecidos de Fafe;
- o Restaurante Degrau Chá (Porto);
- Fábrica de conservas (Gondomar);
- Quatro casas de habitação e quatro propriedades;
- Oito lojas;
- 28 arrecadações e 23 lugares de estacionamento nos concelhos do Porto, Viseu, Vila do Conde, Loulé e São Pedro do Sul;
- Mais de 100 mil contos investidos em mais de 20 empresas;
- 4 automóveis: Porsche 924, BMW 728i, Mercedes 280 S e Volvo 245;
- Rendimento anual de 30 mil contos (dados de 2000).

Citando livremente o antigo PGR, Cunha Rodrigues: "os portugueses têm a política local que merecem!"

Comments:
Meu Caro Conde:
O homem não tem pudor e refere-se ao episódio da batatada como «perseguição política».
Abraço.
 
Olá Conde! Já sabia um pouco da vida conturbada do Major Valentão, mas não com tanto pormenor. Apraz-me dizer que parece que ser trambiqueiro (é assim que se escreve?!!) compensa!
Uma vénia!
 
Conde:
Já pensaram naquela minha proposta do livro? Para já ainda não, mas quando celebrarem um ano de blog seria bom.
Abraço
 
Caro Paulo Cunha Porto,

Pudor e Valentim na mesma oração não concorda nem em género, nem em número. E com ele o termo "batatada2 parece-me assaz certeiro.

Cara Jade,

eu também desconhecia alguns destes episódios, mas aquele de que gosto mais, o do negócio das batatas já mo tinham relatado. É pura e simplesmente vintage.

Caro Galo Negro,

Nem eu nem o Pedro pensámos ainda que hipoteticamente no lançamento do livro, ainda assim obrigado pelo apoio desde sempre. Eu gostava era de o ver a comentar mais amiúde.

Saudações aos três.
 
Caro Conde, falta ainda o título de consul honorário...
Foi expulso, mas mantém o título; se por um acaso do destino, tivesse sido soldado, se calhar teria sido preso, ou será que me enganei?
Mas o doce e ignorante povo acredita nele, vota nele, e "morre" por ele!

Cumprimentos
 
baza fazer um filme com a vida desse homem...
 
E esse é só um dos parasitas da nossa sociedade, o problema é que existem muitos mais como ele.

Um Abraço.
 
As falcatruas desse homem são eternas!! corram com ele, ele mancha tudo onde toca!
 
até a questão do titulo major é meio sorumbática. Como ele, tens outro dinaussauro do dirigismo desportivo, o "dr." pimenta machado!
 
Aqui está um curriculum não invejável...
 
Quem trabalha directamente com ele refere que tipo é um poço de energia, uma força da natureza. No entanto isso não o iliba do seu peenchido curriculum.

E as "berlaitadas" em familiares e a berraria associada em férias, incomodando os vizinhos do aldeamento ? Pois, mas entre marido e mulher ng mete a colher !

Delicioso este valente Valentim !!!
 
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