26 agosto, 2006

 

Sugestão literária II

Fica aqui à vossa consideração uma outra obra, um livro verdadeiramente fracturante. Chama-se "O ´Eduquês´em Discurso Directo - Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista". O seu autor chama-se Nuno Crato (um professor do ISEG, doutorado em Matemática Aplicada nos Estados Unidos). A Editora é a Gradiva, dirigida por Guilherme Valente, que se tem especializado em edições científicas. O ano de edição é 2006.

É toda uma crítica à pedagogia romântica e construtivista que foi eivando o nosso ensino já antes da revolução democrática e que, posteriormente, se alçou às cátedras e conselhos directivos.
Chamo-lhe fracturante porque é a primeira obra em Portugal (pelo menos que eu conheça) que faz uma crítica estruturada, embora assente em declarações e escritos dos mais variados responsáveis pelo ensino em Portugal, da chamada pedagogia "pós-moderna", que domina largamente o nosso ensino há já cerca de três décadas.

Provenho de uma escola, a famigerada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde estas teorias pedagógicas reinam despoticamente. Enquanto por ali campeei, pensei que "tudo aquilo" era um mero desvio à qualidade de ensino. Enganei-me, e este livro prova-o, "aquilo" era toda uma teoria pedagógica que nasceu com Rousseau, fez escola com Piaget (talvez o único pedagogo que se auto-afirmava "não pedagogo"...) e prosseguiu por todo o século XX. Em Portugal, como não podia deixar de ser, chegou com atraso. Mas chegou...

"Aquilo" era: laxismo na avaliação (tornando o célebre axioma liberal "laissez faire, laissez passer" em "deixa fazer, deixa andar"); paternalismo no ensino (subvalorizando os alunos e as suas competências); uma lógica de compensação do ensino transacto (como se a faculdade servisse para suprir a falta de bases com que os alunos chegavam do secundário); falta, quando não ausência total de disciplina (talvez para não aborrecer o "bom selvagem"); tendencialismo no que era apresentado (perpetuando assim alguns lugares miticamente comuns); etc., etc....

O livro de Nuno Crato é por isso uma obra que não agradou a muito boa gente (sobretudo ao ´establishment´ educativo), e, como tal, foi duramente atacado. O ensino português é um enorme feudo e há muito boa gente que não quer ver os seus privilégios ameaçados. É bom, ainda que seja de vez em quando, ter uma perspectiva diferente sobre este problema.

Comments:
Sem mais......
abraço
Paulo
 
Quando se abdica da exigência e se procura agradar, em vez de avaliar, premiando ou punindo, o ensino está condenado.
Sugiro, Caro Conde, a leitura do dossier «Ensino», do primeiro número da revista «ALAMEDA DIGITAL», nova publicação "on line".
Abraço.
 
Fiquei curiosa com tal livro. Obg pela dica.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?