13 agosto, 2006

 

Apesar das Elites

"Com a ocupação do território português pelas forças do General Junot em 1807, colocou-se o problema do destino a dar ao exército português. Napoleão tinha a política de recambiar os soldados dos países vencidos para combater na Gran Armeé. Foi o que fez. Mas Junot e os generais espanhóis que o acompanhavam nesta aventura contaram com uma inesperada ajuda. Os afrancesados portugueses. Traindo a coroa, a nação e o povo, condes, marqueses e generais iluminados logo se prontificaram a fazer o trabalho sujo de vender Portugal a retalho. Alguns, como Gomes Freire e o marquês de Alorna, até comandaram compatriotas para a morte na campanha da Rússia. Antes disso já os tinham levado para violentamente reprimir as sublevações populares espanholas. Aqueles soldados que Goya e, ironicamente, Jorge de Sena imortalizaram, podem muito bem ter sido portugueses às ordens dos traidores.
Por causa do seu estatuto privilegiado, a maior parte dos bandidos foi aceite de volta. Há ruas e praças com os seus nomes e o dia da morte do candongueiro Gomes Freire chegou a ser feriado nacional durante a primeira república. Nada que surpreenda. Portugal é corno manso. É senhora habituada às infidelidades. Seja por dinheiro ou por ansiedade de status, esta gente privilegiada e com imensas responsabilidades sociais, esteve quase sempre do lado errado.

Foi assim em 1850 e 1640, quando os grandes nobres portugueses se apressaram a aceitar lugares nas cortes espanholas. Para a pátria ser independente foi preciso encontrar uma duquesa que quisesse ser rainha. Encontraram. Obviamente, espanhola.

Foi assim na solarenga tarde de Agosto de 1385, quando Nuno Alvares Pereira, e seus peões, tiveram de combater irmãos de sangue que se apresentavam a cavalo. E antes ainda, no princípio de tudo, na batalha de São Mamede. Foi o povo, de forquetas nas mãos, que acorreu ao ambicioso Afonso, porque, do outro lado, estavam cavaleiros em reluzentes aramaduras com lucrativos negócios em Castela.

Hoje já não há condes, generais ou marqueses. Mas há banqueiros, intelectuais e ministros. E há o povo. O bom povo. O povo das aldeias, dos campos, das tabernas e das conversas no café, o povo de cuja simplicidade tantas e tantas vezes se zomba, mas que permaneceu sempre fiel. Eles sabem que podiam viver melhor. Qautros por cento de crescimento ao ano, TGV, auto-estradas e clubes como o Barcelona ou Real Madrid. Mas bem podia Filipe prometer todo o ouro das Américas e Junot toda a igualdade da revolução que o povo, ao contrário de tantos outros, nunca se arrependeu de ter nascido português em Portugal."

Este texto é da responsabilidade de Rodrigo Moita de Deus e está publicado na revista Atlântico número 17 do mês de Agosto. Foi aviltantemente dali roubado e aqui despudoradamente transcrito sem conhecimento prévio do autor. Ele não se importará.

Parece-me que é particularmente pertinente tendo em conta a altura que atravessamos, em que à soberania nacional é-lhe posto um preço para em seguida a vender a retalho; os "centros de decisão", que outrora estavam nas mãos dos portugueses, fogem para Espanha, para a U. E. ou para "god knows where"; ministros há que se afirmam -pasme-se!- iberistas sem que isso acarrete qualquer sanção política correspondente. Faz por tudo isso sentido hoje, talvez mais do que nunca, pensar se ainda fará sentido afirmarmo-nos enquanto portugueses.

PS: A peça "Felizmente há luar" do dramaturgo Luis de Sttau Monteiro fazia parte, e penso que ainda faz, das obras de leitura obrigatória do programa de português do 12º ano do ensino oficial. Para quem não sabe a obra relata o processo público que a Coroa portuguesa moveu contra Gomes Freire de Andrade acusado de traição pela sua colaboração com as autoridades invasoras francesas e por conspiração de "coup d´état" (faz todo o sentido aqui utilizar a expressão francesa!). No decurso deste processo foi condenado à morte e enforcado no forte de São Julião da Barra. Ainda que o dramaturgo tenha utilizado este caso para fazer uma crítica velada ao Estado Novo, a obra não deixe de ser toda ela um panegírico ao general e às causas que aquele abraçou. Quando os sectores conservadores vêm a terreiro afirmar que o ensino português está inquinado por um pensamento esquerdizante e dissolutamentre anti-nacionalista, aqui fica pois uma prova provada disso mesmo.

PS2: Pedro, desculpa ter-te deixado a gerir o Condado totalmente sozinho durante todo o mês de Agosto, mas como bem sabes, onde estou raramente tenho acesso à internet. Ainda assim um muito obrigado pelo esforço e um enorme parabéns pela qualidade do material que tens postado aqui.

Comments:
Peço desculpa mas não concordo. ser-se português é o quê? ter um bilhete de identidade nacional deste país? nascer-se no terriório? ser-se obrigatóriamente um suicidário como nos qualificava Unamuno? Será que ser anglófilo durante as invasões trouxe algum benefício ao apís? acredita mesmo que durante o dominio filipino tal representou apenas atraso ? desculpe, mas se Luis Sttau é sinónimo de cultura "esquerdizante" o que me diz sobre a possibilidade da literatura produzida por Kaúlza de arriaga ser introduzida no ensino oficial ?
 
e ser-se português ...é pertencer ao "bom povo português" - nome de um filme de um "esquerdizante" realizador - analfabeto e frequentador de tascas? Católico não praticante -uma invenção tipícamente portuguesa, inventada para esconder o subverter o habitual panegírio a santos e bentinhos a que o dito povo é mais dado?
 
A discussão que se pretendia abrir era precisamente essa.
Talvez o meu caro amigo queira contribuir com os primeiros subsídios acerca do tema: o que significa ser-se português em pleno século XXI.
 
Estive aqui a fazer uma retrospectiva pelos vossos três meses de actividades...Quero dar os meus parabéns pelos textos e linha ideológica do blog.
Abraço
 
Caro Nuno:
Para mim a escrita não é um sacríficio! :)
Não te preocupes que eu vou dando conta do recado...Belo texto que deixaste por aqui.
Boas férias
 
Creio que ser-se português no século XXI..Interessante nunca tinha pensado...pensava que já não havia assim tanta pureza na raça desde as invasões bárbaras. Se bem entendo; português não é raça, é mistura de raças. Quanto ao que é ser-se português no século XXI desculpe mas penso que foi a mesma sempre: SOBREVIVENTES, quer de depotismos de provêniencia divina, quer de impérios, dos quais nunca fomos donos. Tive um Tio, o Conde do Zambujal que , enquanto Santos Costa vociferava aos microfones da antiga emissora nacional " Angola è nossa", ele vociferava dentro da habitual tasca, onde se encontram os verdadeiros patriotas: EU VENDO O QUE LÀ POSSUO POR UM "COPO DE TRÊS"! Eis o verdadeiro exemplo de um Português. Mas entretanto perdi-me meu caro, pensei que não se discutisse a Pátria, a familia e a autoridade, como alguém disse em tempos que já lá vão...
 
Penso que não se falou aqui de pureza racial. Aliás,nem faz sentido falar dessa temática em Portugal visto que somos fruto de uma amálgama de povos que ocuparam a Península Ibérica. Agora será inegável referir que existe de facto uma identidade lusitana. E já que fala em colónias eu dou-lhe então o exemplo do colonialismo português que em nada se assemelhou ao de outras nações. O que é ser português no século XXI? Parece-me que os tempos são preocupantes. O que restava da nossa identidade nacional diluiu-se com o esbater das fronteiras e o povo português hoje motiva-se apenas com mediocridades. Sejam elas a inauguração de um novo mega-shopping, o Mundial de futebol ou as peripécias de um qualquer reality-show. O gosto pela leitura, pela cultura e o sentido crítico e cívico pura e simplesmente não existem.
Acha positiva esta situação que se vive actualmente???
Uma vez disseram-me que eu talvez tivesse nascido no século errado. Talvez essa pessoa até tenha razão...antigamente ainda existiam territórios para reconquistar, Impérios para reconstruir e um sentido de honra. Agora vemos tudo o que os nossos antepassados construiram esboroar e o povo mantem-se impávido e sereno a engolir tudo o que a TV lhes impinge. Isto é o português do século XXI. Ou pelo menos a grande maioria...
 
Joaquim Pina Moura, Mario Lino
 
Eis o enorme trabalho das elites...mas entenda-me, eu não critico, eu ironizo,talvez com um humor muito negro. Claro que reconheço a existência de uma identidade...mas acredite-me ela não existe naquilo a que chamam povo. A frase "o povo tem sempre razão" é a mais pura ficção, veja-se quem nos condenou a essa lamentável( a todos títulos)situação que descreveu, os políticos que esse povo escolhe. A mediania que descreve e, para terminar, deixe-me citar-lhe Oscar Wilde, que não me interessa nada que seja de esquerda ou de direita, que afirmava o seguinte "descontentamento é o motor da história" e esse é o "único motor" que deve responzabilizar as elites perante o estado das coisas. O povo português não tem identidade, mimetiza a que lhe oferecem. O português descobriu que gostam que ele seja APENAS "Suave", para isso exige apenas "pão e circo". O sabermo-nos num mundo globalizado impede-me de tentar definir qualquer conceito quanto ao " como deveriam ser os Portugueses no século XXI", caso não estivessem a reconstruir uma identidade de ser, que nada tem que ver com antepassados, muitos nem sabem o que isso é, tem mais que ver com o que veêm todos os dias na "caixinha que mudou o mundo"..talvez... e, como sabemos, não mostra o mundo como deveria, mostra-nos um mundo segundo os olhos de quem controla a caixinha. O capitalismo era uma forma de vida, o capitalismo selvagem é uma forma de mudar a vida, de a clonizar, de a estandartizar. Em face disto os portugueses, na sua imensa maioria não tem armas para se defenderem.
 
Parece então que chegamos a um consenso. Não retiro uma única palavra ao que escreveu neste seu último comentário. Em relação à Teoria das Elites, será ainda conveniente relêr a obra de Vilfredo Pareto que ainda é bastante actual.
 
Acrescento o mexicano Gaetano Mosca e ainda Robert Michels, Ralf MiliBand e Robert Dahl ...já agora
 
Meu Caro Conde:
Muito bem lembrada a vergonhosa figura de Gomes Freire, que conto abordar também, um dia. Quando um homem une as suas armas às dos invasores do su país está tudo dito. Como dito está sobre os que oergueram a herói.
Abraço.
 
Caro Dom Tenório,

Aqui ainda se discute a Pátria. Pela simples razão de que aqui ainda há Pátria e patriotas. Há Nação e nacionalistas. Há Mátria e filhos da mesma. E por isso mesmo se responsabilizam as elites por serem dissolutas, diletantes e anti-nacionalistas e o bom "povão" por apoiá-las e votar nelas(o bom povo que adormeceu fascista na noite de 24 de Abril para acordar comuna na manhã seguinte, com o mesmo grau inexpugnável de convicção). O problema de Portugal é que é uma enorme pescadinha de rabo na boca.
Ou dito de outra forma, o nosso problema é estar emparedados entre o vociferante Goebbels Costa e o senhor seu tio, o Conde do Lamaçal. Dos dois, venha o diabo e escolha!
 
Caro senhor não desço a falar com um mero conde, por dá a aquela palha, desculpe, mas noblesse oblige!
Mas já que fala e a talhe de foice (cruzes...credo!)lembra-se do "Foge cão que fazem de ti Barão!" , tenha cuidado tenha cuidado!
Aqui não se pode discutir o que apenas existe como um ente, uma espécie de ser, que se julga existir, como uma Alma de outro Mundo: A Patria: A sua existência fisica, uns meros de oitocentos quilometros quadrados por quatrocentos quilómetros, salvo erro...sem Olivença!) resume-se apenas a isso. e não me venha falar da lingua...por favor! Já chega!
As Elites de que se fala guerreiam com ideias, com palavras com conceitos , são essas as únicas armas que utilizam. Uma Mátria não se constroi destruindo, constroi-se, em torno de todos, com todos, até com os inimigos, construir uma Mátria, não é o mesmo que ter um Couto e um Chefe. Fiz -me Entender meu caro Conde? Quero lá saber do Costa, mas que raio , Quem è o Costa? o do Castelo? Ah esse! A esse não ligo, sabe como é...com bolinhos se enganam os ... A si dirigo a palavra, com algum prazer, em abono da verdade, para avisar que as boas maneiras não se usam só a mesa e no convivio social, utilizam-se no confronto de ideias.
 
Pedindo desculpa pelo alongar da conversa, mas gostei dessa do povão...e ai, Vossa Senhoria, tem toda a razão...o povão mimetiza o que lhe dão...rima e parece-me que é verdade.
 
O Nihilismo ficará para si.
O amor à Nação para aqueles, como nós, que ainda acreditam em valores!
E não confunda Portugal com a república portuguesa! Isso é confundir a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras...
 
Caro Conde:
Olhe que não ...confundo, apenas já não embarco em Naus Catrinetas. E não sei a quem chama Mestre, mas deduzindo, olhe que o mestre gostava imenso de se rodear das primas.
 
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