19 julho, 2006

 

As pérolas e os porcos

O D.N. publicou há dias uma notícia assaz interessante, especialmente agora, que a C.P.L.P. parece ter ganho uma nova dinâmica. Seria importante falar abertamente dos nossos parceiros em tão arrojado projecto.
Nessa notícia dá-se conta da apresentação do novo livro do polémico jornalista angolano Rafael Marques. Nesta obra relatam-se as violações sistemáticas aos direitos humanos na região do Cuango, zona de extracção de diamantes. O Estado angolano participa directamente nesta actividade através da Endiama (sim, os meios de produção, em Angola, ainda estão maioritariamente nas mãos do Estado, e isto em ciência política tem um nome!). Para assegurar o “regular funcionamento” da Endiama são necessárias as correlatas empresas de segurança que, curiosamente, pertencem maioritariamente a ex-generais das FAA, como França N´Dalu e João de Matos. Assim, Luanda tem “privatizado” o monopólio da violência em prol destas empresas privadas que se dedicam à segurança das empresas de extracção de diamantes, mas também, e como não poderia deixar de ser, de petróleo. Conta-nos o DN que desta forma “as populações são impedidas de se dedicar às suas actividades tradicionais (agricultura, pesca ou comércio), criando-se uma realidade que as impede de sobreviver”.
É bom lembrar que, José Eduardo dos Santos faz parte do governo de Angola desde a independência do país, sendo presidente desde 1979. Nas últimas duas décadas e meia construiu uma fortuna pessoal estimada em cerca 2 mil milhões de dólares, enquanto 80% da população de Angola vive com menos de 1 dolar por dia. Diz-se que a sua riqueza, que transcende óbvia e escandalosamente os seus honorários enquanto chefe de Estado, provém do tráfico de armas a nível internacional, bem como dos monopólios estatais da indústria petrolífera e de extracção de diamantes.

Será que os nossos governantes não se sentem, um pouco que seja, desconfortáveis quando se reunem com esta gentalha?

Comments:
depois de alguns problemas a comentar isto aqui vai.... eles querem é tacho e o resto que se lixe não é verdade?
 
Casemiro faltam as panelas ...eles querem tudo.

http://maistopas.blogspot.com/
 
Impressionante, o mais impressionante ainda é que as autoridades Portuguesas políticas e "intelectuais" não se manifestam acerca desses casos.
 
É que "diamonds are a girl´s best friend", mas também os são de alguns "boys" e de alguns "intelectuais"...
 
Como disse, e muito bem, um grande revolucionário "eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada..." esta música tem vinte anos (ou mais alguns) e continua tão actual. Porque será?!?
 
Cara Betinha,

Esse mesmo "revolucionário" que cita (e que eu muito admiro) escreveu isto também:

"Um homem novo
Veio da mata
De armas na mão
Não é soldado
De profissão
É guerrilheiro
Na sua aldeia
A mãe o diz
Duma fazenda
Faz um país

Colonialismo
Não passará
Imperialismo
Não passará
Veio da mata
Um homem novo
Do M. P. L. A.

Namíbia quente
Vai despertando
Da areia ao mar
Agora ou nunca
Não há que errar
Foi em Fevereiro
Na dia quatro
Sessenta e um
Angola existe
Povo há só um

Colonialismo
Não passará...

A cor da pele
Não é motivo
Pra distinguir
Angola nova
Só há que unir
Se novos donos
Querem pôr tronos
No teu país
Dum guerreiro
Faz um juiz

Colonialismo
Não passará...

Olha o caminho
Da Polissário
De Zimbabwé
África toda
Levanta-te
Se novos donos
Querem pôr tronos
Sobre o teu chão
Por cada morto
Nasce um irmão

Colonialismo
Não passará... "

O que só prova que até os "revolucionários" se enganam!
O que diria o Zeca se fosse vivo...
 
Antes de mais, gostaria de fazer um pequeno preâmbulo. Como já devem ter deduzido, eu sou angolano, tenho 33 anos, sou natural da Jamba mas neste momento estou a morar em Luanda. Vivi alguns anos em Portugal, onde me licenciei em turismo na ESHTE no Estoril. Após o término dos meus estudos, regressei a Angola, pois sentia que esse era o meu dever. Não fiz como como muitos colegas da minha geração que preferiram a vida pequeno-burguesa da Europa. Não seria capaz de viver para sempre em Portugal, que considero um país clastrofóbico que caminha para o declínio por incompetência da classe política e desinteresse cívico da população. Gosto muito dos grandes espaços africanos e da humildade do seu povo...
Aqui em Angola, construí a minha vida e aos 30 anos tornei-me proprietário da minha própria agência de viagens. Sou militante (pouco activo) da UNITA desde os 17 anos e por isso refugio-me no pseudóinimo galo negro. Neste país nunca se sabe... Em Portugal, simpatizava com o CDS-PP.
Quanto ao post o que dizer? Amo o meu país, mas tenho um ódio visceral pelos seus governantes.
Tou saturado de tanta tramóia e negociata de petóleo, diamantes e armas. Poderíamo9s ser um país ao nível da África do Sul ou até mesmo Brasil. Q q temos? Um país eternamente adiado... Que falta fazem pessoas como vocês por aqui!
Nunca vi com maus olhos, o período colonail português. Excessos existem em qualquer parte e pelo que os meus pais me contam ], a situação era bem melhor a todos os níveis.
Gosto muito do vosso blog e nunca o considerei neocolonialista! O Visconde, apenas me parece um homem q nasceu no século errado. Um home da nobre estirpe daqueles que construiram o Imperio português. ASlguém que tal como eu, não se conforma com as mesquinharias da vida urbana, um homem de horizontes amplos e que sonha com um destino maior para a sua nação.
Também quero endereçar um abraço caloroso ao Conde pelos seus textos mordazes e onde fica patente toda a sua inteligência e cultura geral.
O Duque e a Duquesa precisam melhorar um pouco mais,certo?
Gostaria que um dia pudessem visitar o meu belo país. Estarei ao vosso dispor para o que quiserem. Ainda por cimna trabalho com turismo! Ou quem sabe um encontro no Benim? :)
Longa vida ao Condado!
 
È engraçado que nunca ouvi falar da CPLP no Brasil, apesar do governo Lula se ter vindo a aproximar das questãoes africanas nos últimos tempos.

Galo Negro:
Sinto-me honrado e emocionado com as tuas palavras.
São pessoas como tu que nos dão força para continuar.
 
Caro Galo Negro,

Depois de um elogio destes uma pessoa fica assim sem jeito, mas aqui vai...
Tens toda a razão quando afirmas que Portugal é um país claustrofóbico, não só em termos de dimensões geográficas, mas sobretudo em predisposição para aceitar ideias novas, além de um ódio acintoso pela catarse (pessoal e nacional). Como bem referes, o nosso problema é a incompetência do poder e o desinteresse dos cidadãos, o que nos leva a uma viciosa pescadinha de rabo na boca da qual não estou a ver moita de onde saia coelho, como dizia o outro...
Os membros do Condado são militantes (ou próximos) do CDS, mas e falando por mim, sou do CDS porque à direita em Portugal nada mais existe que possa ser levado a sério (e olhe que o CDS cada vez menos o pode ser também!)
Quanto à tua Angola: até há uns anos a solução parecia ser a UNITA, mas com o extremar de posições de Savimbi a coisa foi-se tornando mais duvidosa. Hoje em dia penso que as coisas só mudarão quando alguém dessa área puder ser eleito PR, e penso por exemplo em Chivukuvuku...
Quanto àquilo que dizes sobre o período colonial: Portugal nunca fez realmente a catarse desse período, e muito menos da "descolonização exemplar" (cóf, cóf...). Eu posso emitir a minha opinião sobre esse assunto, mas enquanto os restantes 10 milhões de compatriotas preferirem não falar sobre o tema...
Finalmente aproveito para agradecer o convite para visitar o teu país, embora a título pessoal tenha um certo pejo em fazer turismo em ditaduras... Mas é um sonho antigo, ir à África lusófona, e assim ainda havemos de nos encontrar!
Curioso falares do Benim: conjectura-se um périplo por essas terras para um rendez-vous à porta do Forte.
A data é para já desconhecida, mas sente-te já convidado para a expedição.

Um forte abraço!
 
Amigos:
Digam o dia e hora para aportar no Benim e tentarei lá estar!
 
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