28 junho, 2006

 

"Devi sê legau sê Negão no Senegau..."

Acabo de ler o livro Payasos y Monstruos de Albert Sánchez Piñol, um livro que retrata a vida de sete ditadores africanos: Idi Amin Dada, do Uganda; Jean Bedel Bokassa da República Centro Africana (e pessoalmente, o meu preferido); Hastings Banda, do Malawi, homem de quem me falou pela primeira vez o meu grande amigo Octávio Custódio; Mobutu Sese Seko, da República Democrática do Congo (o antigo Zaire); Sékou Touré, da Guiné-Conakry; o Imperador Haile Selassie, o célebre príncipe divino dos Rastafari, que durante o seu reinado conseguiu a proeza de tranformar a Etiópia no portentado que hoje conhecemos; e Macías Nguema, e o seu sobrinho, Obiang Nguema, que, um, sucedendo ao outro, protagonizaram verdadeiros momentos dourados para a Guiné Equatorial.

Não há nada ali de que já não se desconfiasse: a estirpe sanguinária e tresloucada destes homens; a ingerência dos países ocidentais, mas não só, na vida interna do continente africano à custa das riquezas do seu sub-solo; and so on, and so on...

Mas a questão final que o autor deixa no ar é assustadora, além de não nos deixar propriamente de consciência tranquila. Questiona-se Sánchez Piñol acerca da imposição de noções e realidades essencialmente ocidentais que os europeus fizeram questão de implementar em África sem qualquer atenção ao modus vivendi autóctone: a ideia de Estado, de Estado de Direito, de Democracia. Tudo instituições que os europeus aplicaram em África, como se África fosse um território virgem, onde se pudesse começar desde o ponto zero.

Além do mais, o autor espanhol aborda a famigerada Conferência de Berlim, e de como ela influiu negativamente na situação africana a partir do século XX. Finalmente, Piñol indaga acerca da natureza extremamente autoritária e agressiva destes regimes. “Planteia” o autor a seguinte hipótese: será porque os modelos destes homens, ou seja, aquilo que eles tinham conhecido em vida, era tão somente os regimes extremamente autoritários e agressivos das potências coloniais? O que é certo é que estes homens não reclamavam a pertença ou a herança dos grandes heróis ancestrais africanos. “Por el contrario, Amín era seguidor de Hitler; Bokassa, un incondicional de Napoleón y De Gaulle; Macías, un admirador declarado de Francisco Franco; Mobutu, de manera más o menos consciente, copiaba con fidelidad radiográfica la rapacidad del rey Leopoldo de Bélgica”, afirma Piñol.

Mas deixemos por momentos a tragicomédia subsahariana e focalizemo-nos no que nos interessa. E, enquanto estes lunáticos campeavam pelos seus domínios, o que acontecia no Benim? Em 1958, a então República do Daomé consegue garantir a sua independência face a França e dois anos mais tarde, mais precisamente no dia 1 de Agosto de 1960 é declarada a independência total.

Entre 1960 e 1972 o país é assolado por um grande período de turbulência graças às rivalidades étnicas. Sucederam-se vários golpes de estado e respectivas configurações de regime. Este período foi dominado essencialmente por três homens: Sourou Apithy, Hubert Maga e Justin Ahomadegbé, representando cada um deles uma área diferente do país.

Este triumviratum forma um conselho presidencial, mas em 1972 dá-se um golpe militar liderado por Mathieu Kérékou (nome assaz sugestivo...), que derruba o citado conselho. É estabelecido então um regime Marxista, controlado pelo Conselho Militar da Revolução (CNR), e o país passa então a designar-se como República Popular do Benim. O regime nacionaliza a banca e a indústria petrolífera. Nos finais da década de oitenta, Kérékou abandona o Marxismo depois de uma crise económica e decide então restabelecer o sistema parlamentarista e a economia de mercado. Nas eleições presidenciais de 1991, o presidente em exercício é derrotado por Nicéphore Soglo, e torna-se então no primeiro presidente africano negro a abandonar o cargo após as eleições. Hoje em dia o Benim é um dos países africanos politicamente mais estáveis, e um daqueles que mais se aproxima ao modelo “ocidental” de democracia e Estado de direito.

À luz da história o que poderemos, pois, esperar do Continente Negro: mais exemplos como os de Kérékou, ou continuará a crescer a lista de “Payasos y Monstruos”?

Comments:
pertinente este post...
parabéns...

infelizmente o que podia ser um paraíso é um campo de batalhas devido às imensas riquezas do seu subsolo... e digamos que os países colonizadores não deram de facto o melhor exemplo na liderança das suas colónias...

mais exemplos como o Kérékou por favor...

um beijo doce *
“·.¸Dreams¸.·”
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?